domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Percepção I















Em psicologianeurociência e ciências cognitivas, perceção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais a partir do histórico da experiência anterior.
Através da perceção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio.
Consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos.
A perceção pode ser estudada do ponto de vista estritamente biológico ou fisiológico, envolvendo estímulos elétricos evocados pela estimulação dos órgãos dos sentidos. Do ponto de vista psicológico ou cognitivo, a perceção envolve também os processos mentais, a memória e outros aspetos que podem influenciar na interpretação dos dados percecionados.

O estudo da perceção:

A perceção é um dos campos mais antigos no estudo dos processos fisiológicos e cognitivos envolvidos. Os primeiros a estudar com profundidade a perceção foram
Hermann von Helmholtz, Gustav Theodor Fechner e Ernst Heinrich Weber, A Lei de Weber-Fechner é uma das mais antigas relações quantitativas da psicologia experimental e quantifica a relação entre a magnitude do estímulo físico (mensurável por instrumentos) e o seu efeito percebido (relatado). Mais tarde Wilhelm Wundt fundou o primeiro laboratório de psicologia experimental em Leipzig em 1879.

Na filosofia, a perceção e seu efeito no conhecimento e aquisição de informações do mundo é objeto de estudo da filosofia do conhecimento ou epistemologia. Em geral a perceção visual foi base para diversas teorias científicas ou filosóficas. Newton e Goethe estudaram a perceção de cores, Kant salientou a incognoscibilidade do real em si, isto é considerado independentemente da sua representação, ou seja o que conhecemos é o real para nós (fenómeno), e algumas escolas, como a Gestalt, surgida no Século XIX e outras mais recentes, como a fenomenologia e o existencialismo baseiam toda a sua teoria na perceção do mundo.

Para a psicologia a perceção é o processo ou resultado de se tornar consciente de objetos, relacionamentos e eventos por meio dos sentidos, que inclui actividades como reconhecer, observar e discriminar. Essas actividades permitem que os organismos se organizem e interpretem os estímulos recebidos em termos de conhecimento significativo.

A perceção de figura-fundo, por exemplo, é a capacidade de distinguir adequadamente objeto e fundo numa apresentação do campo visual. Um enfraquecimento nessa capacidade pode prejudicar seriamente a capacidade de aprender de uma criança.



Perceção e realidade

Na psicologia, o estudo da perceção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Por este motivo, a perceção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os aspetos que têm especial importância para si própria, se houver alguma privação ou deficiência sensorial (cegueira ou surdez por exemplo) este aspeto ainda será mais acentuado.
Muitos psicólogos cognitivos e filósofos de diversas escolas, sustentam a tese de que, ao transitar pelo mundo, as
 pessoas criam um modelo mental de como o mundo funciona (paradigma). Ou seja, elas sentem o mundo real, mas o mapa sensorial que isso provoca na mente é provisório, da mesma forma que uma hipótese científica é provisória até ser comprovada ou refutada ou novas informações serem acrescentadas ao modelo.
À medida que adquirimos novas informações, a nossa perceção altera-se. Diversas experiências com
  perceções visuais demonstram que é possível notar a mudança na perceção ao adquirir novas informações. As ilusões de ótica e alguns jogos, como o dos “descubra as diferenças”, baseiam-se nesse facto. Algumas imagens ambíguas são exemplares ao permitir ver objetos diferentes de acordo com a interpretação que delas se faz. Numa "imagem mutável", não é o estímulo visual que muda, mas apenas a interpretação que se faz desse estímulo.

Assim como um objeto pode dar margem a múltiplas perceções, também pode ocorrer um objeto não gerar perceção nenhuma. Se o objeto percebido não tem base na realidade de uma pessoa, ela pode, literalmente, não percebê-lo. Os primeiros relatos dos colonizadores da América
 registaram que os índios da América Central não viram a frota naval dos colonizadores que se aproximavam na sua primeira chegada. Como os navios não faziam parte da realidade desses povos, eles simplesmente não eram capazes de percebê-los no horizonte e eles misturavam-se à paisagem sem que isso fosse interpretado como uma informação a considerar. Somente quando as frotas estavam mais próximas é que passaram a ser visíveis. Qualquer pessoa, nos dias de hoje, de pé numa praia espera encontrar barcos no mar. Eles tornam-se, portanto, imediatamente visíveis, mesmo que sejam apenas pontos no horizonte (eu próprio assisti a uma criança de 4 anos, instada pelo pai a identificar fotografias de animais do Jardim Zoológico, a dizer que um deles era um “pinguru”).
Passa-se a considerar cada vez mais a importância da pessoa que percebe, durante o ato da perceção. A presença e a condição do observador modificam o fenómeno.
As perceções são normais se realmente correspondem àquilo que o observador vê, ouve e sente. Contudo, podem ser deficientes, se houver ilusões dos sentidos ou mesmo alucinações. Esta ambiguidade da perceção é explorada em tecnologias humanas como a
 camuflagem, mas também no mimetismo apresentado em diversas espécies animais e vegetais, como algumas borboletas que apresentam desenhos que se assemelham a olhos de pássaros, que assustam os predadores potenciais e os camaleões que assumem a cor do local em que se encontram. 

As Teorias Cognitivas da perceção assumem que há uma pobreza de estímulos. Isto significa (em referência à perceção) que as sensações, sozinhas, não são capazes de prover uma descrição única do mundo. As sensações necessitam de enriquecimento, que é o papel do modelo mental, dos sistemas percetivos.

Sensação = elemento singular da perceção (som, cor, etc.).

Perceção = conjunto estruturado de sensações.

Fatores que influenciam a perceção:

O
 processo de perceção tem início com a atenção que não é mais do que um processo de observação seletiva, ou seja, das observações por nós efetuadas. Este processo faz com que nós percebamos alguns elementos em desfavor de outros. Deste modo, são vários os fatores que influenciam a atenção e que se encontram agrupados em duas categorias: a dos fatores externos (próprios do meio ambiente) e a dos fatores internos  (próprios do nosso organismo).

Fatores externos:

Os fatores externos mais importantes da atenção são
 a intensidade  (pois a nossa atenção é particularmente despertada por estímulos que se apresentam com grande intensidade e é por isso que as sirenes das ambulâncias possuem um som insistente e alto); o contraste  (a atenção será muito mais despertada quanto mais contraste existir entre os estímulos, tal como acontece com os sinais de trânsito pintados em cores vivas e contrastantes); o movimento que constitui um elemento principal no despertar da atenção (por exemplo, as crianças e os gatos reagem mais facilmente a brinquedos que se movem do que estando parados); e a incongruência, ou seja, prestamos muito mais atenção às coisas absurdas e bizarras do que ao que é normal (por exemplo, na praia num dia verão prestamos mais atenção a uma pessoa que apanhe sol usando um cachecol - ou, como já me aconteceu, ver nudistas de camisola de gola alta - do que a uma pessoa usando um fato de banho normal).

Fatores internos:

Os fatores internos que mais influenciam a atenção são a motivação - prestamos muito mais atenção a tudo que nos motiva e nos dá prazer do que às coisas que não nos interessam (crianças e adultos, homens e mulheres, jovens, pessoas idosas e gente de meia-idade visitam com mais frequência secções diferentes dos hipermercados); a experiência anterior ou, por outras palavras, a força do hábito faz com que prestemos mais atenção ao que já conhecemos e entendemos. Ainda há a considerar o fenómeno social que explica que a nossa condição sociocultural faça com que pessoas de contextos sociais diferentes não prestem igual atenção aos mesmos objetos  (por exemplo, os livros e os filmes a que se dá mais importância em Portugal não despertam a mesma atenção no Japão ou na Índia).

Princípios da perceção:

Na perceção das formas, as teorias da perceção reconhecem quatro princípios básicos que a influenciam:

- tendência à estruturação ou princípio do fechamento
 - tendemos a organizar elementos que se encontram próximos uns dos outros ou que sejam semelhantes 
(exemplo: constelações de estrelas);

- segregação figura-fundo - explica que percebemos mais facilmente as figuras bem definidas e salientes que se inscrevem em fundos indefinidos e mal contornados (por exemplo, um cálice branco pintado num fundo preto). Figuras deste tipo, porque chamam muito a atenção, são muito utilizadas em sinalética e publicidade);

- pregnância das formas ou boa forma - qualidade que determina a facilidade com que percebemos figuras bem formadas. Percebemos mais facilmente as formas simples, regulares, simétricas e equilibradas;

- constância percetiva - traduz-se na estabilidade da perceção (os seres humanos possuem uma resistência acentuada à mudança e, por exemplo, percebem cores diurnas mesmo à noite).

Outros fatores:

Em relação à perceção da
 profundidade, sabe-se que esta advém da interação de fatores orgânicos (características do nosso corpo) com fatores ambientais (características do meio ambiente). São exemplos dos fatores orgânicos: a acomodação do cristalino que é uma espécie de lente natural de que dispomos para focar convenientemente os objetos; e a convergência das linhas de visão (a posição das linhas altera-se sempre que olhamos para objetos situados a diferentes distâncias).
Para exemplificar os fatores ambientais temos o princípio do contraste luz-sombra
  (as partes salientes dos objetos são mais claras que as restantes, em função da iluminação recebida) e a grandeza relativa  (a profundidade pode ser representada variando o tamanho e a distância dos objetos pintados. Os objetos mais distantes parecem-nos mais pequenos do que aqueles que estão mais próximos - o que se designa por perspetiva).


Tipos de Perceção:


O estudo da perceção distingue alguns tipos principais de perceção. Nos seres humanos, as formas mais desenvolvidas são a perceção visual e auditiva, pois durante muito tempo foram fundamentais à sobrevivência da espécie (a
 visão e a audição eram os sentidos mais utilizados na caça e na proteção contra predadores). Também é por essa razão que as artes plásticas e a música foram as primeiras formas de arte a serem desenvolvidas por todas as civilizações, antes mesmo da invenção da escrita. As demais formas de perceção, como a olfativa, gustativa e táctil, têm um importante papel na alimentação e no conforto, mas também na afetividade e na reprodução.

Além da perceção ligada aos cinco sentidos, os humanos também possuem capacidade de perceção temporal e espacial.

Wikipédia (adaptado por António José Ferreira)




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