terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tensão Cultural

Se é consensualmente aceite que os valores éticos se caracterizam por uma certa universalidade , já os valores culturais se pautam por uma extrema diversidade.
Com efeito, prezar a vida e a dignidade não é mais característica de um povo do que de outro e são valores universalmente assumidos; já comer com pauzinhos ou com faca e garfo, dizem respeito apenas a contextos socio-culturais diferenciados e uma ou outra prática nada acrescenta ou diminui ao valor ético de quem as usa.
Infelizmente, nem tudo é assim tão inócuo no plano das práticas que se alegam serem de índole cultural no sentido de tradicional. "Tradições" houve ou há, que violam os direitos das pessoas e que não encontram na sociedade contemporânea justificação possível.
Por exemplo: os casamentos combinados, os crimes de "honra" ou as mutilações genitais não podem ser aceites numa sociedade moderna ainda que possam tentar ser "justificados" com a "tradição".
Nada justifica actos de violência e/ou prepotência que se imponham à vontade dos sujeitos, ou mesmo que contem com a sua aquiescência, se forem contrários à liberdade e à dignidade da pessoa humana. Assim, o caso do "canibal alemão" que alegou ter literalmente comido, depois de ter morto, um amigo, a pedido do próprio, ainda que pudesse corresponder à verdade, não teria justificação ética possível uma vez que a ninguém assiste o direito legal ou moral de atentar contra a vida de outrém, mesmo a seu pedido.
Se fossemos por essa via veríamos que muitas das práticas que hoje consideramos cruéis e desumanas já foram correntes noutros tempos históricos e mesmo ainda hoje em certos casos, e até já foram tradições aceites: a escravatura, a tortura e o "apartheid" já foram tradicionais e até legais, sem que isso os possa, em caso algum, legitimar.
No Antigo Egipto era costume enterrar o arquitecto da Pirâmide juntamente com o Faraó, na Índia queimar a viúva na pira funerária do marido, na China assassinar à nascença crianças do sexo feminino; em Roma os pais e maridos dispunham do direito de vida e de morte sobre as mulheres e os filhos; no Irão e na Arábia Saudita as mulheres adúlteras podem ser mortas à pedrada e ainda recentemente (até 1977), a legislação portuguesa permitia ao marido assassinar a mulher por adultério em flagrante delito.
Nada disto, como em geral não respeitar os outros e as leis comuns, pode ser considerado como legítimo, ainda que se pretextem usos, costumes e tradições.
Os valores culturais ainda que possuam uma legitimidade própria, devem estar enquadrados pelas leis gerais e pela universalidade ética como condição sine qua non da possibilidade de vida em comunidade, limitando o mais possível os focos de tensão cultural que podem descambar em situações de violência e desordem social graves.

António José Ferreira


TAREFA:

Comente o texto na perspectiva da intervenção em contextos de tensão cultural.

domingo, 30 de novembro de 2008

Direitos e Deveres: Cidadania - Noções Fundamentais




A noção de Cidadania está obviamente ligada ao conceito de "Cidadão" ou membro de pleno direito da Cidade (Civitas ou Pólis).
Pólis para os antigos gregos (e daí o termo "política" e outras etimologicamente relacionadas como "polícia") e Civitas para os latinos (e daí "cívico", "civismo" e "civilidade" por exemplo), que designam espaços de coexistência social e politica regulados por leis, ou seja, comunidades políticas.
Nessas antigas sociedades o termo "cidadão" designava um "igual entre os iguais" num conjunto populacional que continha profundas diferenças, não apenas de condição material, mas também de estatuto. Em Atenas, por exemplo, a primeira Democracia (de "demos" = "povo" e "cracia" = "autoridade", "governo") conhecida de sempre, os Cidadãos eram uma minoria, uma vez que eram apenas os homens (com exclusão das mulheres, o que, aliás, durou até muito tarde, na verdade até ao século XX, um pouco por todo o mundo) de condição Livre (pois havia escravos) e nacionais (pois havia estrangeiros); em Roma no príncipio eram só os homens de famílias influentes (os Patrícios) e depois progressivamente foram sendo reconhecidos direitos e deveres de cidadania a outras camadas sociais (os Plebeus, por exemplo) e até a estrangeiros integrados por força da expansão do Império. No entanto, esses direitos não implicavam a igualdade entre todos os elementos da população e Roma, mesmo enquanto foi uma República, esteve longe de ser uma democracia.
O termo "república" provém do latim "res publica" ("coisa pública" no sentido de património comum) e designa uma forma de Governo onde a soberania é partilhada.
Exceptuando pequenos casos minoritários como as "Repúblicas Italianas", (Veneza, Génova), que durante o Renascimento foram abastados empórios comerciais (quase sempre as formas de governo não dinástico estão ligadas ao desenvolvimento da sociedade com base nas actidades económicas, nomeadamente o comércio), os Estados Europeus foram monarquias (de "mono"= "um" em grego e "arquia" que designa "poder") até ao eclodir da Revolução Francesa (1789), com um curta excepção para a Inglaterra, que de 1649 a 1659 foi uma República; em 1776, os Estados Unidos proclamaram a sua independência face à Grã-Bretanha, assumindo a configuração de república federal.
Os membros destas comunidades deixaram de ser "súbditos", termo que exprime a noção de estar "abaixo de" ("sub") e passaram a considerar-se "cidadãos".
Esta nova condição assenta numa ideia de horizontalidade jurídico-política. A Revolução Francesa adoptou como lema a trilogia "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" que reflecte bem esse novo espírito.
As novas ideias disseminaram-se por toda a Europa e América e progresivamente os novos regimes liberais surgiram como padrão político dominante no Mundo Ocidental. Em Portugal a primeira "Revolução Liberal" data de 1820 e teve como consequência a adopção da Constituição de 1822 e também uma Guerra Civil só terminada em 1834 com a vitória dos "liberais" (partidários de D. Pedro IV - cuja estátua está no Rossio) sobre os "absolutistas" (partidários de seu irmão, o Infante D. Miguel, que se exilou).
Nos últimos dois séculos e num contexto problemático de avanços e recuos, o resultado é a generalização progressiva do reconhecimento dos direitos fundamentais e a luta pelo seu efectivo estabelecimento, pois uma coisa, sem dúvida importante, é a consagração de direitos no "papel" e outra, a sua efectivação prática no quotidiano.
Esta depende, sem dúvida, muito do respeito institucional, mas começa na auto-consciência e na auto-exigência que cada um tem dos seus direitos, indissoluvelmente ligados, numa espécie de "simetria" cidadã , aos seus deveres.

domingo, 2 de novembro de 2008

Pertença e Lealdade

Legenda: Na hieraquia motivacional representada pela "Pirâmide de Maslow" nas "Necessidades Sociais" está incluída a necessidade de "Pertença".




Uma das fontes motivacionais mais intensas é a "pertença". Ninguém gosta de viver uma vida inteira isolado. Todos nós procuramos integrar-nos, real ou simbolicamente, em instâncias mais vastas do que o indivíduo e digo - real ou simbolicamente - porque muitos "grupos" de que fazemos parte são na realidade construções simbólicas, mais da ordem do afectivo que do efectivo.
Temos necessidade de nos representarmos como parte de "colectivos" com carga forte, por exemplo, os clubes de futebol.
Nestes o futebol acaba por ser um pretexto para o exercício de laços de afectividade e de emoção, de autêntica paixão (pathos) que nos ligam a um conjunto de outros sujeitos que como nós, se reconhecem sob uma identidade comum.
Repare-se que muitas vezes as claques não vão, propriamente, ver os jogos; os seus elementos vão estar juntos" torcendo" pelo seu clube e afirmando-se contra o outro, porque só nessa confrontação a pertença faz para eles, sentido.
O problema surge quando da confrontação simbólica se passa à confrontação real.
Ora, o desporto e o espectáculo desportivo ( que não são bem a mesma coisa) existem como fenómeno social contemporâneo e mesmo antigo , basta que nos lembremos dos Jogos Olímpicos originais ou mesmo dos Torneios da Idade Média, para sublimar a violência latente nas sociedades humanas e a transformar em algo socialmente aceitável e até benéfico.
As relações de pertença exigem uma conduta leal, isto é , quem pertence a um determinado colectivo não o deverá "trair". Deverá ser confiável, seguro no seu compromisso para com esse colectivo seja ele de natureza lúdica ou profissional. Aliás, neste contexto é efectivamente mais importante a seriedade do comprometimento, porque os resultados da sua violação são, em regra, mais graves do que o nosso clube perder um jogo.
Já para os jogadores e para a equipa técnica do clube o problema transcende o mero simbolismo e passa para a "economia real", pois as consequências dos resultados das partidas não são apenas, nem principalmente, afectivas.
Um membro de um colectivo profissional tem que evidenciar lealdade para com esse colectivo mesmo nos aspectos exteriores. Assim a Rainha de Inglaterra não se desloca, no seu país, num Mercedes, por exemplo, mas num sumptuoso Rolls Royce ou num mais modesto Range Rover.
Mas mais importante do que os sinais exteriores do compromisso é o próprio compromisso e para que este se efective é absolutamente indispensável uma forte consciência deontológica.


TAREFAS:


1) Explicite o conceito de "Pertença".


2)Relacione "Pertença" e "Lealdade".


3) Avalie o contributo de uma postura deontológica para a solidez das organizações ( das empresas por exemplo).

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Códigos Institucionais e Comunitários

Immanuel Kant (1724-1804) é um dos maiores vultos do pensamento em geral e do pensamento ético e deontológico em especial. A sua Ética funda-se na noção do Dever como, e numa linguagem muito simplificada, instância de compatibilização entre meios e fins.
Assim o procedimento moral é apenas o que fôr universalizável e esta noção é o principal pilar de todos os códigos deontológicos.
Para o entendermos nada como ler as palavras do próprio Kant:
"No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade". (FMC, II)

TAREFA:
Comente este excerto tendo em conta a necessidade de proceder deontologicamente.

domingo, 19 de outubro de 2008

Empatia, Compaixão e Solidariedade


A identidade estabelece-se através de um conjunto de vínculos que permitem, a cada um de nós, reconhecer-se e ser reconhecido. Um nome próprio e um nome de família que nos identificam enquanto indivíduos pertencentes a um primeiro grupo, naturais de uma determinada freguesia, munícipes de um determinado concelho, cidadãos de um país e do mundo.
Nesse mundo, nesse país, nesse concelho, nessa freguesia e até, nessa família, há, certamente, outros indivíduos que constituem, face a um sujeito, os referentes daquilo a que se pode chamar a alteridade.
A alteridade é tudo aquilo que é da ordem do exterior a nós, o que é próprio do "Outro" ( alter). A relação que se estabelece entre o mesmo e o outro, entre o idêntico e o diferente, é a relação que permite aceder ao mundo. O autismo, por exemplo, significa a ausência da ponte entre o mesmo e o outro e, assim, o mundo permanecerá sempre desconhecido; ora, o que permanece desconhecido, permanece inexplorado, inacessível e significa uma espécie de "condenação" a viver na incomunicabilidade. Só a saída da sua própria esfera permite o acesso à realidade, na sua plenitude e diversidade.
Falamos da realidade existencial mas também da realidade social que é uma das dimensões da existência; e nessa dualidade, entre o ser que se situa num contexto circunstanciado por Tudo o que lhe é outro, é essencial o estabelecimento de pontes entre o sujeito e os grupos de pertença em que este está inserido como elemento autónomo, mas em relação.
As palavras chave dessa relação são a empatia, a relação compassiva e a solidariedade.
A empatia significa a participação afectiva e emotiva numa realidade que lhe é, em princípio, alheia ; esta capacidade de estar em sintonia e de reconhecer identidade, ou seja, de reconhecer o que nos é próprio, mesmo naquilo que está fora de nós, aproxima os seres humanos. Muitas vezes, essa empatia é mesmo inconsciente: sente-se, antes de se querer. Mas a vontade pode também ser um factor propiciatório ao estabelecimento da empatia. A palavra " empatia" é próxima da simpatia e tem com esta, um radical comum: pathos, ou " paixão" que, com o logos e o ethos, configura o triângulo que nos torna humanos.
Enquanto o pathos remete para a afecção, o logos remete para a razão e o ethos para o dever.
A empatia liga-se à reacção compassiva face ao outro e ao seu sofrimento; compassiva, significa que manifesta compaixão e compaixão decompõe-se em "com + pathos" - que quer dizer, capacidade de sofrer com - de sentir e partilhar o pathos do outro e, assim, ser capaz de assumir o descentramento de si próprio e a abertura necessária ao acto solidário. Temos assim, ligados, três pilares fundamentais da relação EU - OUTRO : a empatia, a reacção compassiva e a solidariedade que, para se efectivar, se traduz necessariamente, em acções solidárias.
Nota: reflicta no conteúdo deste texto, como base para a abordagem da temática suscitada pela Ficha 1 ( que já foi distribuída).


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Estereótipos,Preconceitos e Representações Sociais

Tertúlia de café na primeira metade do séc. XX

A realidade social, como aliás, a realidade em geral, é apercebida ("conhecida") por parte dos sujeitos através de "representações"; quer dizer, através de "prismas" que decorrem de contextos socioculturais complexos.
As noções que temos acerca do "mundo" ou seja, da realidade a que é dado sentido, só o fazem porque a linguagem e o pensamento lho atribuem. Assim, quando cada um de nós chegou ao "mundo", este já se encontrava constituído e a nossa "socialização"consistiu (e consiste) numa adaptação progressiva e selectiva a esse "mundo" que continua a estruturar-se durante a nossa existência e para além dela.
Para que tudo faça sentido, tenha significado e nos possibilite orientarmo-nos, precisamos de referências que nos permitam nomear a realidade e agir dentro dela; a essas referências podemos chamar "conceitos", ou seja, "ideias" que permitem representar seres, objectos ou acções e lidar com eles.
Muitas dessas noções são de origem social e constituem o chamado "senso comum" que tem por função tornar possível a comunicação indispensável ao quotidiano. Se entrar num café e pedir uma "bica", sei que me fornecerão uma pequena chávena de uma bebida de café e água obtida através de uma máquina de pressão e temperatura elevadas, técnica e comercialmente designada por "expresso".
Pedir uma "bica" dispensa-nos de pormenores técnicos e científicos e facilita-nos a ingestão tranquila do nosso "café" ou seja, bebida de café, geralmente consumida ao balcão de um estabelecimento também designado por "Café" (modernamente, o mais "abrasucado" - "Cafetaria").
Ora, quando eu era jovem, dizia-se que fazer "vida de café" era não trabalhar ou trabalhar pouco, não estudar ou estudar pouco e sobretudo "dar muito à língua" e "mexericar". Hoje a maior parte das pessoas já não tem tempo para fazer "vida de café", a vida está demasiado rápida e sufocante e os "Cafés" ou se transformaram em agências bancárias ou praticamente eliminaram as mesas e deram lugar aos grandes balcões do "come-em-pé" onde as "bicas" entram a escaldar pela goela abaixo e a conversa é reduzida ao mínimo do "olá, tudo bem" ?
Assim, fazer "vida de café" constituía um "estilo" de vida, um "tipo" de ocupação cuja especialidade era ou parecia ser, a de estar permanentemente desocupado, essa expressão correspondia e de certo modo, ainda corresponde, a um "estereótipo", que designava um tipo de indivíduos que geralmente eram considerados como os que "não faziam nenhum" e claro, que em relação a eles havia preconceitos, os que passavam a "vida nos cafés" ou andavam a "polir esquinas" ou eram "madraços" profissionais ou "chulos" ou coisa assim , boa coisa é que, de certeza, não eram.
No entanto homens como Fernando Pessoa "passaram a vida no café" e hoje ninguém poderá dizer que Pessoa "não fez nenhum", sendo até celebrado como um herói , infelizmente e como de costume, póstumo, da nossa e para utilizar uma expressão sua, "Pátria/Língua"!
Por este e por muitos mais exemplos, se pode verificar que estereótipos e preconceitos se implicam mutuamente, decorrem uns dos outros e alimentam-se em reciprocidade e são enganadoras e abusivas formas de percepção da realidade, que do ponto de vista da vida em sociedade não costumam trazer nada de positivo, antes pelo contrário; constituindo, em regra, mecanismos de exclusão ou discriminação negativa.
Só um posicionamento reflexivo e crítico nos permite evitar esclarecidamente as "armadilhas" e os "alçapões" de uma linguagem estereotipada e de um pensamento preconceituoso que constituem obstáculos sérios à coesão social, absolutamente necessária para a construção da vida em comunidade.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Capacidade Argumentativa

No contexto de uma sociedade democrática, demais a mais, praticamente "governada" pela opinião, a capacidade de argumentar constitui-se como uma competência fundamental para a vida em sociedade.

Efectivamente a distinção entre o modo de vida democrático e todos os outros, encontra-se fundamentalmente na importância da deliberação em orgãos de carácter colegial que implica um processo de tomada de decisões precedido e, muitas vezes, sucedido de debates. Ora nesses debates a força dos argumentos veio historicamente substituir os argumentos da força, típicos das sociedades não democráticas.

Nas sociedades dirigidas por orgãos que se regem por mecanismos deliberativos as ordens política e jurídica, mas também as questões de natureza eminentemente social como os costumes, a moda, a arte, o desporto e todos os fenómenos de massas, são susceptíveis de debates em que a capacidade de argumentar se revela essencial para a conquista da adesão do maior e mais qualificado número de membros do auditório (por vezes uma e outra condição não são totalmente coincidentes) .

Foi na Grécia Antiga que se começou a levantar a importância do debate e da deliberação colectiva como processo de tomada de decisão para os assuntos de natureza pública, precisamente por ter sido em Atenas, velha e próspera cidade-estado da antiga Grécia, que primeiro se constitui um sistema de governo com instituições democráticas em que os cidadãos e ápenas estes, se reuniam em assembleias e tribunais e decidiam dos negócios públicos.

Surgiram então profissionais da formação para o debate, que os cidadãos abastados contratavam para que treinassem os seus filhos nessas artes; esses formadores ficaram conhecidos por "Sofistas" e a técnica em que eram especialistas é a Retórica ou arte de argumentar.

O objectivo da Retórica era e é, persuadir a audiência para que esta apoie determinados pontos de vista em detrimento de outros e para isso chegam-se muitas vezes a utilizar técnicas de manipulação que passam muitas vezes pela adulação do auditório, ou seja, diz-se ao público aquilo que ele quer ouvir. Ora, isto põe geralmente em causa os princípios da seriedade, da verdade e do bem comum, que deverá ser o objectivo final de toda a decisão em termos de políticas públicas.

Para ilustrar o tema deixem-me contar-lhes uma pequena história :

Um camponês acabara de adquirir uma bezerra, mas tendo tido oportunidade de emigrar temporariamente para França, pediu a um vizinho que lhe ficasse com a vitela e assim foi. Durante dois anos consecutivos o nosso emigrante esteve lá fora e não deu novas, nem mandadas e o que cá ficou foi tratando e engordando a bezerra que entretanto se tornou numa enorme vaca leiteira, bem tratada e muito produtiva.

Ao fim dos tais dois anos sem dar notícias, o emigrante regressa à terra natal e vai ter com o vizinho de quem reclama a vaca, o vizinho recusa-se a entregar-lha sem tornas, alegando que durante dois anos contribuira sozinho para o sustento e crescimento da vaca e isso tivera custos, portanto só devolveria o animal contra uma indemnização; o outro recusou-se a dar-lha e o caso foi para tribunal.

Acontece que na vila sede do concelho só havia um advogado (deve ter sido há muito tempo), pelo que num dia foi lá o emigrante e o advogado garantiu-lhe:

- Esteja descansado porque a vaca é sua !
O outro ao ser notificado de que uma queixa relativa à devolução da vaca corria contra ele, decidiu recorrer ao tal advogado que era o único que existia e o causídico à saída do consultório garantiu-lhe peremptoriamente :

-Esteja absolutamente tranquilo que a vaca é, com toda a certeza, sua !

Um jovem estagiário de advocacia que tinha presenciado as dua consultas, após o segundo cliente ter saído do consultório diz ao patrono :

- Então o senhor doutor disse aos dois litigantes a mesma coisa ! Mas de quem vai ser a vaca afinal ?

Aí o velho advogado respondeu :

- Oh homem cale-se que a vaca é nossa !!!

Saber argumentar é mesmo muito importante !









Programação - Projectos pessoais e familiares

Pensar prospectivamente a vida pessoal é uma competência que cada um de nós deve desenvolver em ordem a uma existência mais organizada e racionalizada num contexto de risco e incerteza como é o actual. Se bem que não possamos ter certezas absolutas a respeito de muitas das variáveis que constituem a realidade de que nós próprios somos parte integrante, podemos e sobretudo devemos, antecipar racionalmente os cenários prováveis da nossa realidade a curto, médio e longo prazo.
Esses cenários envolvem a nossa vida pessoal e necessariamente a de todos aqueles que connosco mais directamente se relacionam, principalmente os membros da nossa própria família.
Pensar prospectivamente significa pensar para a frente, antecipar cenários possíveis e jogar com probabilidades, ou seja programar; ser capaz de conceber faseadamente um conjunto de objectivos e em função dos recursos disponíveis, delinear estratégias em ordem à sua consecução.
Se por exemplo quisermos mudar de casa teremos que nos certificar se teremos as condições necessárias para o fazer de vários pontos de vista, principalmente do financeiro. Obviamente que esse desejo deve decorrer de uma necessidade e a ela devem corresponder os meios que justifiquem e "cubram" o esforço a dispender. Para isso será necessário proceder a um diagnóstico, a uma análise, da situação em termos das razões que nos levam a querer mudar e da verificação de que justificam um novo e tão vultuoso investimento e depois, da inventariação das condições futuras de que permitam suportá-lo.
Como esta situação que pode servir de exemplo, muitas mais, para não dizer todas são planificáveis e optimizáveis em ordem a uma consecução mais plena e proveitosa das metas a que nos propomos ao longo da vida.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mediação Intercultural

A Mediação Intercultural impõe-se como necessidade de fazer fluir a comunicação e logo, o entendimento ( Comunicar, quer dizer isso mesmo-"pôr em comum"), em sociedades multiculturais que pretendam atingir a interculturalidade, condição necessária para a inserção social de todas as comunidades étnico-culturais específicas na comunidade global.
Por vezes e numa situação inicial ,as barreiras constituídas pelo preconceito e pelo estereótipo que vulgarmente enquadram os fenómenos de aproximação de comunidades de proveniências diversas tornam difícil um entendimento imediato, sendo de toda a conveniência o recurso à mediação.
Esta solução de aproximação consiste na utilização de agentes de comunicação e ligação que permitem, pelo profundo conhecimento da realidade dessas comunidades o estabelecimento dos contactos básicos essenciais às primeiras aproximações como quem "quebra o gelo" sem o derreter.
O mediador intercultural funciona assim como um elemento chave para o estabelecimento de um "protocolo" que possibilita a comunicação através do domínio dos códigos cujo desconhecimento é factor de estranheza, afastamento e conflitualidade.

Cidadania : Globalização (Factores e Dinâmicas)

Os factores e as dinâmicas da Globalização são predomiminantemente de carácter económico e financeiro,mas também cultural.

A dinâmica desta fase da globaliização assenta fundamentalmente na livre circulação de mercadorias e na sua livre transacção , no fundo a velha aspiração do comércio livre (Portugal antes de aderir à então CEE, fez parte de uma outra organização europeia, a EFTA-European Free Trade Association, cuja finalidade era a criação de uma zona de comércio livre entre países europeus, sem outros objectivos políticos;tanto que Portugal quando aderiu era governado por um regime ditatorial que só caíu em Abril de 74). Mas na sua actual fase a globalização não se esgota no comércio , é a própria produção e a mão-de obra necessária que podem ser globalmente determinados. Essa determinação tem muitas por factor base o custo do trabalho se bem que esse factor não seja o único, claro que o nível de especialização também é fundamental.

Isto deve-se ao carácter transnacional da organização económica em que grandes empresas ,as chamadas multinacionais, operam à escala planetária seccionando as suas dependências segundo factores de competitividade. Assim é vulgar uma empresa de automóveis por exemplo, ter o centro máximo de decisão na Alemanha, mas as fábricas em Espanha, Portugal ou na Roménia, devido aos custos da mão-de obra serem mais vantajosos (para a empresa claro está !) e ter centros de software na Índia ou na Coreia por questões de especialização local nesse sector para além do reduzido custo local do trabalho especializado quando comparado com o do país sede.

O problema fundamental da actual fase da globalização é que se internacionalizam a produção e a circulação de bens e serviços , mas não se faz o mesmo em relação às condições políticas e sociais o que origina, em relação à fase anterior do Sistema Económico Internacional que assentava no proteccionismo de cada Estado da sua própria economia , através de mecanismos vários como as barreiras alfandegárias ; claros recuos na regulamentação laboral,Como por exemplo nos países ditos desenvolvidos, sem grandes ganhos no desenvolvimento dos outros, todos deixados à voracidade do "mercado" e da sua consequente "lei da selva".
Também factores de ordem cultural integram o processo de globalização, um Mercado Único necessita de uma Língua Franca e essa parece ter sido encontrada no Inglês , versão internacional ; tambem o "american way of life " se tornou no objectivo de vida padrão desejado internacionalmente. Como é também essencial ao processo a instantaneidade das comunicações possibilitado pelas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) eis porque são tão importantes num mundo globalizado as aprendizagens do Inglês e da Informática.