terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"A União Faz a Força" (Associativismo e Sociedade Civil))



Portugal é, ainda hoje, um país muito rico em matéria de movimento associativo. Muitas das nossas principais instituições são, ou começaram por ser, associações – desde clubes desportivos até bancos (os “montepios”) e seguradoras (as “mutualidades”) tiveram e têm, no nosso país, um importante papel social, cultural, mas também económico e financeiro.
As Sociedades de Cultura e Recreio, os Clubes Desportivos, as Cooperativas de Consumo, as Associações de Bombeiros Voluntários, as Misericórdias, as Cooperativas de Educação (Regular ou Especial) e os próprios Sindicatos e Associações de Empresários desempenharam e ainda desempenham, um importante papel no desenvolvimento e na melhoria das condições de vida da população.
No entanto, estão a mudar a situação, as condições de existência e até a razão de ser dos movimentos associativos que decorre da própria dinâmica da sociedade civil, isto é dos movimentos de cidadãos com raízes no tecido social e independentes do Estado (se bem que muitos acabem por ser por este apoiados).
Se, desde meados do século XIX até ao último quartel do século XX, o movimento associativo tendia a substituir o Estado nas funções que este não conseguia cumprir; hoje os motivos de associação entre cidadãos são muito mais específicos e concretos nos seus objectivos e finalidades, determinados por interesses económicos, sociais e culturais comuns ou afins (utentes de serviços, pacientes ou familiares de pacientes de afecções similares, praticantes de modalidades e até de “estilos de vida” - como “hobbies” e tipos de orientação alimentar e mesmo sexual).
Muito mudou na vida das pessoas para que isto acontecesse e aquela sociedade onde o convívio e o bailarico aconteciam nas associações populares chegou - por intermédio de um conjunto de fatores configurando processos sociais de mudança: económica, social, política e cultural - de certo modo, ao fim. Pode ser que com a actual "crise" a tornar-se duradoura, haja algum ressurgimento deste fenómeno, porque a mobilidade das pessoas poderá ficar bastante limitada, dado o aumento do preço dos combustíveis e dos transportes e a escassez de dinheiro poderá estimular a imaginação para que se volte ao convívio de proximidade. Os motivos de debate vão também abundar. Aliás, já se nota na sociedade portuguesa e quero crer que um pouco por todo o mundo, uma dinâmica de comunicação espontânea que não se registava há duas ou três décadas. Enfim, não sendo por bons motivos, são as virtudes próprias de algum infortúnio.


António José Ferreira

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