terça-feira, 24 de janeiro de 2012
A Globalização - raízes históricas
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Camões, "Os Lusíadas", Canto I
A globalização, enquanto fenómeno, não é uma realidade recente. De facto, os grupos humanos desde os tempos mais remotos procuraram alargar o seu mundo circundante. Foi assim que, desde África, berço da espécie, o homem foi aumentando o seu horizonte perceptivo, povoando a terra e estendendo-se pelo continente europeu, asiático, americano e australiano. Foi, em diáspora, à procura da terra prometida, da terra mais favorável à sua satisfação na luta pela existência que determinados povos, conquistando outros, construíram grandes impérios. O Mundo Antigo conheceu, entre outros, o egípcio, o sumério, o fenício, o grego, o persa e o romano. Este último, tendo o Mar Mediterrâneo como meio de comunicação privilegiado, com as suas galés uniu os pontos mais longínquos do seu império.
Nos séculos XV e XVI portugueses e espanhóis, compreendendo igualmente a importância do mar enquanto meio de união, lograram, com as suas empresas ultramarinas, unir os cinco continentes. E com essa união permitiram o primeiro grande momento histórico da humanidade: a transformação do mundo numa pequena «aldeia global». Eis, aqui, a importância que comummente é atribuída a personagens históricas como Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Fernão de Magalhães e Pedro Álvares Cabral.
Num mundo assim globalizado pela expansão ultramarina, a revolução industrial (séc. XVIII) e a revolução tecnológica (séc. XX), permitiram acelerar aquele fenómeno com o encurtamento temporal das distâncias que medeiam os cinco continentes. Foi assim que velha caravela portuguesa deu origem ao barco a vapor e ao avião, e as cartas ao telegrama e ao correio electrónico.
Com os novos meios de transporte e com as novas tecnologias de informação e comunicação, os povos conseguiram estreitar cada vez mais as suas relações, de tal forma que a distância espacial é quase totalmente minimizada pelo encurtamento temporal. Tal fenómeno, presente culturalmente no cinema e no teatro, socialmente na televisão, nos jornais e nas revistas, e tecnologicamente no computador e na Internet, trouxeram-nos imensas vantagens. Mas também muitas desvantagens.
Certamente que no retrocesso às sociedades fechadas das primeiras décadas do séc. XX poder-se-iam evitar muitas das desvantagens da globalização, mas essa não seria uma verdadeira solução para os problemas do terrorismo, do fundamentalismo religioso, das redes de pedofilia ou tantos outros anátemas que mancham a sociedade actual. E não seria, porque, ainda que fosse possível esse retrocesso, os problemas continuariam a existir, ainda que confinados a uma escala nacional. Por isso, só no futuro reside a solução. Esse futuro deve ser construído no compromisso de todos os agentes implicados, cidadãos e políticos, na defesa da paz, do respeito e da tolerância mundial.
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