terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O que é o "Associativismo"?




Segundo o “Guia Para o Associativismo”: “O Associativismo é a expressão organizada da sociedade, apelando à responsabilização e intervenção dos cidadãos em várias esferas da vida social e constituiu um importante meio de exercer a cidadania”.
A importância e o valor do associativismo decorrem do facto de constituir uma criação e realização viva e independente; uma expressão da acção social das populações nas mais variadas áreas.
Para José de Almeida Cesário, o associativismo é expressão e exercício de liberdade e exemplo de vida democrática. É uma escola de vida colectiva, de cooperação, de solidariedade, de generosidade, de independência de humanismo e cidadania. Concilia valor colectivo e individual. Pelo que, defender, reforçar, apoiar e promover o desenvolvimento do movimento associativo é defender e reforçar a democracia e a participação dos cidadãos na vida social.
O Movimento Associativo é um produto social. Transforma-se com a evolução social, acompanha e participa activamente nessa transformação. Realiza-se tanto mais profundamente quanto mais tenha claros os objectivos da sua intervenção, o seu projecto próprio e o projecto de sociedade para que está orientado o conteúdo fundamental da sua acção.
O associativismo é uma forma de união de povos e/ou comunidades que procuram, de forma económica desinteressada, alcançar um objectivo, com uma personalidade jurídica própria, conferida, no nosso caso, pela lei portuguesa.
Tal como a Constituição da República diz, no seu artigo n.º 20, “toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacífica”.
Então, podemos afirmar que o associativismo, enquanto movimento de união e desinteresse económico, é um acto de liberdade e de opção para qualquer pessoa. Esta pode, de livre vontade, formar a sua própria associação.
“Uma associação forma-se por decisão voluntária (...) no sentido dos objectivos que lhes satisfaçam as necessidades (...) ” (Elo Associativo nº. 17, 2001:16)
Na sociedade em que vivemos torna-se cada vez mais comum ouvir dizer que algumas associações são como que empresas, uma vez que a sua actividade exige uma gestão ao nível da empresarial.
Esta é uma das grandes confusões de muitos associativistas, dirigentes ou não. Uma Associação sem fins lucrativos não é uma empresa, senão vejamos:
- Uma empresa tem por objectivo produzir e/ou vender um produto, fazer lucro e distribuí-lo; Uma associação tem como fim prestar um serviço, resolver problemas sociais, desenvolver potencialidades, valorizar os seus associados, reinvestir socialmente eventuais receitas e proveitos realizados em prol de todos os associados e da população;

- Para uma empresa o que conta, em termos de representatividade, é a força económica e o investimento do sócio; Na associação cada associado tem um voto.
- Uma empresa é constituída e permanece enquanto desenvolve uma actividade economicamente rentável; Uma associação é uma emanação da vontade popular que traz benefícios sociais aos seus associados, vive e renasce permanentemente pela vontade de sucessivas gerações de associados anónimos, cuja força motora é a resposta a problemas locais, à melhoria da qualidade de vida, a participação popular, o exercício profundo da democracia, etc.
- As empresas não têm acesso ao estatuto de utilidade pública; As associações têm acesso ao estatuto de utilidade pública que assegura um conjunto de benefícios fiscais às associações.
Trata-se de um movimento no qual as pessoas se agrupam em torno de interesses comuns, constituindo associações, entidades com personalidade jurídica e com objectivos de entreajuda e cooperação. (Guia para o Associativismo, 2001:5).
Os Estatutos fixam os grandes objectivos, enquanto os Regulamentos assinalam regras de comportamento dos associados entre si e de gestão para melhor se atingirem aqueles objectivos.
Toda a gestão é finalmente orientada para a organização de actividades que conduzem à satisfação das necessidades expressas pelos associados desde a fundação da associação, diversificadas em seguida e ampliadas à medida que os anos passam, a sociedade evolui e com ela as mentalidades, as técnicas, os meios e a cultura. (Elo Associativo, n.º 17, 2001: 16)
Enquanto forma privilegiada de intervenção da sociedade civil, o Associativismo, segundo o Guia para o Associativismo (2001:5), rege-se por três princípios:
“De Liberdade – A adesão a uma associação é livre, tal como é livre a saída do movimento associativo”.
“De Democracia – O funcionamento de uma associação baseia-se na equidade entre os seus membros, traduzida na expressão «um associado, um voto» ”.
“De Solidariedade – As associações resultam sempre de uma congregação de esforços, em primeiro lugar dos fundadores e depois de todos os associados”.
Se por um lado a origem de uma associação acaba por ser comum a todas, ou seja, a congregação de esforços em torno de um interesse comum, por outro, o seu fim, o seu objectivo, já pode ser o mais diversificado, levando a que existam as mais variadas associações (Culturais, Recreativas, Desportivas, Defesa do Ambiente e Património, Desenvolvimento Local, Moradores, Estudantes, Pais, Profissionais...).
Paulo Pinho

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Globalização - raízes históricas





As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,

Camões, "Os Lusíadas", Canto I

A globalização, enquanto fenómeno, não é uma realidade recente. De facto, os grupos humanos desde os tempos mais remotos procuraram alargar o seu mundo circundante. Foi assim que, desde África, berço da espécie, o homem foi aumentando o seu horizonte perceptivo, povoando a terra e estendendo-se pelo continente europeu, asiático, americano e australiano. Foi, em diáspora, à procura da terra prometida, da terra mais favorável à sua satisfação na luta pela existência que determinados povos, conquistando outros, construíram grandes impérios. O Mundo Antigo conheceu, entre outros, o egípcio, o sumério, o fenício, o grego, o persa e o romano. Este último, tendo o Mar Mediterrâneo como meio de comunicação privilegiado, com as suas galés uniu os pontos mais longínquos do seu império.
Nos séculos XV e XVI portugueses e espanhóis, compreendendo igualmente a importância do mar enquanto meio de união, lograram, com as suas empresas ultramarinas, unir os cinco continentes. E com essa união permitiram o primeiro grande momento histórico da humanidade: a transformação do mundo numa pequena «aldeia global». Eis, aqui, a importância que comummente é atribuída a personagens históricas como Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Fernão de Magalhães e Pedro Álvares Cabral.
Num mundo assim globalizado pela expansão ultramarina, a revolução industrial (séc. XVIII) e a revolução tecnológica (séc. XX), permitiram acelerar aquele fenómeno com o encurtamento temporal das distâncias que medeiam os cinco continentes. Foi assim que velha caravela portuguesa deu origem ao barco a vapor e ao avião, e as cartas ao telegrama e ao correio electrónico.
Com os novos meios de transporte e com as novas tecnologias de informação e comunicação, os povos conseguiram estreitar cada vez mais as suas relações, de tal forma que a distância espacial é quase totalmente minimizada pelo encurtamento temporal. Tal fenómeno, presente culturalmente no cinema e no teatro, socialmente na televisão, nos jornais e nas revistas, e tecnologicamente no computador e na Internet, trouxeram-nos imensas vantagens. Mas também muitas desvantagens.
Certamente que no retrocesso às sociedades fechadas das primeiras décadas do séc. XX poder-se-iam evitar muitas das desvantagens da globalização, mas essa não seria uma verdadeira solução para os problemas do terrorismo, do fundamentalismo religioso, das redes de pedofilia ou tantos outros anátemas que mancham a sociedade actual. E não seria, porque, ainda que fosse possível esse retrocesso, os problemas continuariam a existir, ainda que confinados a uma escala nacional. Por isso, só no futuro reside a solução. Esse futuro deve ser construído no compromisso de todos os agentes implicados, cidadãos e políticos, na defesa da paz, do respeito e da tolerância mundial.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Lemas




Dois exemplos de lemas de clubes famosos apelando à União.

"A União Faz a Força" (Associativismo e Sociedade Civil))



Portugal é, ainda hoje, um país muito rico em matéria de movimento associativo. Muitas das nossas principais instituições são, ou começaram por ser, associações – desde clubes desportivos até bancos (os “montepios”) e seguradoras (as “mutualidades”) tiveram e têm, no nosso país, um importante papel social, cultural, mas também económico e financeiro.
As Sociedades de Cultura e Recreio, os Clubes Desportivos, as Cooperativas de Consumo, as Associações de Bombeiros Voluntários, as Misericórdias, as Cooperativas de Educação (Regular ou Especial) e os próprios Sindicatos e Associações de Empresários desempenharam e ainda desempenham, um importante papel no desenvolvimento e na melhoria das condições de vida da população.
No entanto, estão a mudar a situação, as condições de existência e até a razão de ser dos movimentos associativos que decorre da própria dinâmica da sociedade civil, isto é dos movimentos de cidadãos com raízes no tecido social e independentes do Estado (se bem que muitos acabem por ser por este apoiados).
Se, desde meados do século XIX até ao último quartel do século XX, o movimento associativo tendia a substituir o Estado nas funções que este não conseguia cumprir; hoje os motivos de associação entre cidadãos são muito mais específicos e concretos nos seus objectivos e finalidades, determinados por interesses económicos, sociais e culturais comuns ou afins (utentes de serviços, pacientes ou familiares de pacientes de afecções similares, praticantes de modalidades e até de “estilos de vida” - como “hobbies” e tipos de orientação alimentar e mesmo sexual).
Muito mudou na vida das pessoas para que isto acontecesse e aquela sociedade onde o convívio e o bailarico aconteciam nas associações populares chegou - por intermédio de um conjunto de fatores configurando processos sociais de mudança: económica, social, política e cultural - de certo modo, ao fim. Pode ser que com a actual "crise" a tornar-se duradoura, haja algum ressurgimento deste fenómeno, porque a mobilidade das pessoas poderá ficar bastante limitada, dado o aumento do preço dos combustíveis e dos transportes e a escassez de dinheiro poderá estimular a imaginação para que se volte ao convívio de proximidade. Os motivos de debate vão também abundar. Aliás, já se nota na sociedade portuguesa e quero crer que um pouco por todo o mundo, uma dinâmica de comunicação espontânea que não se registava há duas ou três décadas. Enfim, não sendo por bons motivos, são as virtudes próprias de algum infortúnio.


António José Ferreira

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A Moratória Psicossocial




Erik Erikson nasceu a 15 de Julho de 1902 em Frankfurt na Alemanha e morreu em Maio de 1994 nos Estados Unidos.

Foi um psiquiatra e relacionou-se com a família Freud, especialmente com Anna Freud, com quem iniciou a psicanálise e o gosto pelo estudo da infância.


Teoria Psicossocial do Desenvolvimento


A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson prediz que o crescimento psicológico ocorre através de estágios e fases, não ocorre ao acaso e depende da interacção da pessoa com o meio que a rodeia. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma vertente negativa. As duas vertentes são necessárias mas é essencial que se sobreponha a positiva. A forma como cada crise é ultrapassada ao longo de todos os estágios irá influenciar a capacidade para se resolverem conflitos inerentes à vida. Esta teoria concebe o desenvolvimento em 8 estágios, um dos quais se situa no período da adolescência.

Outro dos conceitos eriksonianos importantes é o de moratória psicossocial. Esta moratória é "um compasso de espera nos compromissos adultos". É um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação dos papéis, que vai permitir um trabalho de elaboração interna. Antecipa-se o futuro, exploram-se alternativas, experimenta-se, dá-se tempo…

As moratórias são caracterizadas pelas necessidades pessoais, mas também por exigências socioculturais e institucionais. "Cada sociedade e cada cultura institucionalizam uma certa moratória para a maioria dos seus jovens."



"As instituições sociais amparam o vigor e a distinção da identidade funcional nascente, oferecendo aos que ainda estão aprendendo e experimentando um certo status da aprendizagem, uma moratória caracterizada pela progressividade das obrigações definitivas e pela introdução de competições sancionadas (os exames, por exemplo), assim como por uma tolerância especial."

É claro que quanto mais têm evoluído as sociedades mais longo tem sido esse período de moratória, até se se ter tornado talvez longo demais (ultrapassando por vezes os 30 anos de idade), atingido que está o ponto de "pescadinha de rabo na boca" - quer dizer: se há um século essa moratória era quase inexistente para as crianças e jovens das classes trabalhadoras - a "adolescência" é uma "invenção" burguesa - e havia trabalho infantil e necessidade social e económica desse trabalho, também se dava a assumpção precoce de responsabilidades familiares; poderá dizer-se que a decadência e até a falência desse modelo acarretam, hoje, o excesso de duração do período de moratória "mascarando" através de longuíssimos períodos de formação por exemplo, dificuldades económicas e sociais como o desemprego já não apenas "juvenil", mas de jovens adultos que assim se vêem impedidos de se tornarem autónomos.





Especial importância ao período da adolescência, devido ao facto de ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que se verificam acontecimentos relevantes para a personalidade "definitiva" (é claro que uma personalidade nunca está completamente "acabada").

Princípio Epigenético: Cada estágio contribui para a formação da personalidade total, sendo por isso todos importantes mesmo depois de se os atravessar. Como cada criança tem um ritmo cronológico específico, não se deve atribuir uma duração exacta a cada estágio.

O núcleo de cada estágio é uma crise básica, que existe não só durante aquele estágio específico, nesse será então mais proeminente, mas também nos posteriores a nível de consequências, tendo também raízes prévias nos anteriores.


A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estágios, o senso desta negociado na adolescência evolui e influencia os últimos três.




Esta teoria enuncia:

8 estágios/idades de desenvolvimento:

- Cada um comporta uma vertente positiva e uma negativa, uma virtude e uma ritualização (uma forma culturalmente padronizada de experienciar uma vivência na interacção com os outros), esta porém, quando se torna perversa, transforma-se em ritualismo.

1ª Idade: Confiança versus Desconfiança
(aproximadamente dos 0-18 meses)

A criança vai aprender o que é ter ou não confiança, está muito relacionado com a relação entre o bebé e a mãe.

«A razão adequada de confiança e de desconfiança resulta na ascendência da esperança: “A esperança é a virtude inerente ao estado de estar vivo mais primitiva e a mais indispensável”» (Erikson, Apud., Calvin S. Hall; Gardner Lindzey; John B. Campbell, 2000, p.170).

À medida que o bebé vai adquirindo experiência, ele aprende que as esperanças que um dia eram prioridades, deixam de o ser, sendo superadas por outras de um nível mais elevado.

Ritualização da divindade, nas interacções pessoais e culturalmente ritualizadas, entre a mãe e o bebe.

A falta do reconhecimento pode trazer alienação na personalidade do bebé, um senso de abandono e separação.

Forma pervertida do ritual da divindade materna: idolismo (na vida adulta), em que a pessoa idolatra um herói.



2ª Idade: Autonomia versus Vergonha e Dúvida
(aproximadamente dos 18 meses-3anos)

Vertente Positiva: Autonomia, necessidade de auto-controle e de aceitação do controle por parte das outras pessoas.

Vontade: responsável pela aceitação progressiva do que é permitido e necessário, os elementos desta são progressivamente aumentados pelas experiências ao nível da consciência, manipulação, verbalização e locomoção.

Vertente Negativa: Vergonha e Dúvida quando perde o senso de auto-controle, os pais contribuem neste processo ao usarem a vergonha na repressão da teimosia.

Ritualização: Judicial criança julga-se a si e aos outros, diferenciando o certo do errado.

Forma-se:

A base ontogenética da alienação humana, a espécie dividida, que Erikson designou como pseudo-espécie, a origem do preconceito humano.

Ritualismo: Legalismo (a punição vence a compaixão)


3ªIdade: Iniciativa versus Culpa
(aproximadamente dos 3-6 anos)

Vertente Positiva: Iniciativa, crescente capacidade de destreza e responsabilidade

Virtude: Propósito

«O propósito, então, é a coragem de imaginar e buscar metas valorizadas não - inibidas pela derrota das fantasias infantis, pela culpa e pelo medo cortante da punição» (Erikson, Apud Calvin S. Hall; Gardner Lindzey; John B. Campbell, 2000: p.172)

Vertente Negativa: Culpa, busca demasiado entusiasta das metas

Ritualização: Dramática, em que a criança participa activamente de dramatizações; usa figurinos, imitando personalidades adultas.

Ritualismo: Personificação, por toda a vida. O adulto desempenha papéis a fim de apresentar uma imagem que não representa a sua verdadeira personalidade.


4ª Idade: Diligência versus Inferioridade
(aproximadamente dos 6-12 anos)

Vertente positiva: Diligência, dedicação à educação formal.

Virtude: Competência, obtida quando nos dedicamos ao trabalho e concluímos tarefas, o que nos traz habilidade.

«A competência, então, é o livre exercício da destreza e da inteligência na conclusão de tarefas, não-prejudicado pela inferioridade infantil»(Erikson, Apud., Calvin S. Hall; Gardner Lindzey; John B. Campbell, 2000: p.172)

Vertente Negativa: Inferioridade, aplicação de responsabilidades, para evitar esses sentimentos.

Ritualização: Formal, a criança aprende a ter um desempenho metódico, que proporcionam à criança um senso global de qualidade que inclui habilidade e perfeição.

Ritualismo: Formalismo, consiste na repetição de formalidades sem significado e em rituais vazios.

5ª Idade: Identidade Versus Confusão/Difusão

Esta 5ª idade localiza-se usual e aproximadamente dos 12 aos 18/20 anos, ou seja, na adolescência, puberdade, precisamente na idade em que na vertente positiva, o adolescente vai adquirir uma identidade psicossocial, isto é, compreende a sua singularidade, o seu papel no mundo.

Tendo em conta que as fases anteriores deixam marcas que vão influenciar a forma como se vivência esta crise, o adolescente vai perceber-se numa perspectiva histórica integrando elementos identitários adquiridos nas idades anteriores.

«O agente interno activador na formação da identidade é o Ego, em seus aspectos conscientes e inconscientes». O qual neste estágio tem a peculiaridade de apurar e inteirar talentos, aptidões e habilidades na identificação com pessoas semelhantes a nós e na acomodação ao ambiente social»

O adolescente vai adquirir uma identidade psicossocial, isto é, compreende a sua singularidade, o seu papel no mundo. Dá-se a construção da identidade, o sentimento da identidade, o qual é conforme Erikson «[…] o sentimento de ser o mesmo ao longo da vida, atravessando mudanças pessoais e ocorrências diversas».

Moratória psicossocialEsta moratória é um compasso de espera nos compromissos adultos. É um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação de papéis, que vai permitir um trabalho de elaboração interna»; A sociedade permite ao adolescente espaço de experimentação, no qual ele explora e ensaia vários estatutos e papéis sociais».

Identidade Difusa: uma noção do eu incoerente, desarticulada e incompleta

Identidade bloqueada: não permissão (existe um bloqueio) do período normal de moratória por questões sociais, familiares e/ou pessoais.

Identidade negativa: «O adolescente selecciona identidades que são indesejáveis para a família e sua comunidade».

Nesta idade emergem um conjunto particular de valores a que Erikson denominou por fidelidade: «A fidelidade é a capacidade de manter lealdades livremente empenhadas, apesar das inevitáveis contradições dos sistemas de valor»; fidelidade é assim a grande virtude adquirida nesta idade e pode-se traduzir na fidelidade aos investimentos, ideais e compromissos.

Ritualização: Ideologia -> solidariedade de convicção que incorpora ritualizações de estágios de vida prévios em um conjunto coerente de ideias e ideais.

Perversão da ritualização: Totalismo -> preocupação fanática e exclusiva com o que parece ser inquestionavelmente certo ou ideal.


6ª Idade: Intimidade Versus Isolamento

Pode-se afirmar que esta idade ocorre dos 18/20 aos 30 e tal anos, e na qual o jovem almeja estabelecer relações de intimidade com os outros e adquirir a capacidade necessária para o amor íntimo, ainda que para isso tenham de fazer sacrifícios. (o amor é a virtude dominante do universo)

Pela primeira vez o indivíduo poder desfrutar de uma genitalidade sexual verdadeira, mutuamente com o alvo do seu amor.

Os indivíduos encaram a tarefa desenvolvimental de construir relações com os outros numa comunicação profunda expressa no amor e nas relações de amizade.

Neste estágio relativamente ao Ego pode-se afirmar que a força deste depende do parceiro com que se está preparado para compartilhar situações tão peculiares como a criação de um filho, a título exemplificativo.

A vertente negativa traduz-se no isolamento de quem não consegue partilhar afectos com intimidade nas relações privilegiadas. «O perigo do estágio da intimidade é o isolamento, a evitação dos relacionamentos, quando a pessoa não está disposta a comprometer-se com a intimidade»

«A ritualização correspondente desse estágio é a associativa, isto é, um compartilhar conjunto de trabalho, amizade e amor. O ritualismo correspondente, o elitismo, expressa-se pela formação de grupos exclusivos que são uma forma de narcisismo comunal».


7ª Idade: Generatividade versus Estagnação

A mais longa das idades psicossociais, vai normalmente dos 30 aos 60 anos e consiste no conflito entre produzir, educar, cuidar do futuro e preocupar-se unicamente com as suas necessidades e interesses.

A vertente positiva é a Generatividade que traduz o desejo de criar novas vidas, obras de arte, ideias, objectos, educar, ensinar, ou seja, o desejo de realizar algo que nos sobreviva e que contribua para o bem-estar das gerações futuras. O indivíduo generativo = gerador, criativo) projecta-se no futuro não se preocupando somente consigo ou com os seus.

A virtude que se desenvolve neste estágio é o Cuidado, que se expressa pela preocupação com os outros, o querer cuidar das pessoas e compartilhar com elas o seu conhecimento e experiências.


O fracasso neste estágio, conduz à Estagnação, à incapacidade de projecção no futuro, isto acontece porque, o indivíduo se torna egocêntrico, fecha-se nas suas próprias ambições dando pouco ou nada de si aos outros.

A ritualização é denominada por Geracional e consiste na ritualização da maternidade/ paternidade, produção, ensino e papeis em que o adulto age como transmissor de valores para os mais novos.

Ritualismo perverso: Autoritarismo é a usurpação da autoridade incompatível com o cuidado.


8ª Idade: Integridade versus Desespero

O último estágio que acontece normalmente a partir dos 60 anos, consiste numa retrospectiva da vida ao aproximarmo-nos do seu fim, em que revemos escolhas, opções, realizações e fracassos.

A vertente positiva, é a Integridade que advém do sentimento de que a vida teve sentido, há satisfação por termos vivido como vivemos, reconciliamo-nos com o sofrimento e a dor e aceitamos a existência como algo valioso.

A Sabedoria é a virtude resultante do encontro da integridade com o desespero, e consiste na consciencialização das nossas potencialidades dadas as circunstâncias, e a constatação de que não vivemos em vão. Segundo Erikson a sabedoria é «[...] a preocupação desprendida com a vida em si, diante da morte em si».

O Desespero é a avaliação negativa do que fizemos, e a tomada de consciência de que já não se pode recomeçar, que desperdiçamos o nosso tempo e que quase nada de valioso criamos, instalando-se a angústia e o medo da morte.


A ritualização presente neste último estágio pode ser chamada de Integral, que se reflecte na sabedoria das idades.

Ritualismo perverso: Sapientismo - “a tola pretensão de ser sábio”

Ego:

Ego Criativo: soluções criativas para os problemas que surgem em cada estágio. Pois quando se sente ameaçado reage com um esforço renovado e não desiste, sendo os poderes de recuperação deste inerentes ao ego jovem. Opera independente do id e do superego.


Qualidades: confiança e esperança, autonomia e vontade, diligência e competência, identidade e fidelidade, intimidade e amor, generatividade e cuidado, e integridade. Por serem valores universais, e os quais reúnem três esferas reciprocamente essenciais, o ciclo de vida do indivíduo, a estrutura social básica e a sequência de gerações.

Nova identidade de Ego: pois as qualidades que são a este atribuídas ultrapassam a concepção psicanalítica prévia.




Críticas e Controvérsias


Um dos métodos favoritos de Erikson para testar a sua teoria era o estudo biológico de cada caso, usando homens famosos como Martin Luther e Mahatama Gandhi.


Críticos à sua teoria dizem que esta é mais aplicável a meninos do que a meninas.





ERIKSON versus FREUD

Existem algumas diferenças entre a teoria de Erikson e a de Freud, entre elas destacam-se:

O facto de Erikson ter uma concepção mais englobante do desenvolvimento, pois, a sua teoria abrange todo o ciclo de vida e o desenvolvimento tem em conta o meio sociocultural, grupos e comunidades, ou seja, o meio não é entendido somente pela família, tem em conta a construção da identidade global e não somente psicossexual, embora haja o reconhecimento da importância dos primeiros anos, o período marcante da teoria psicossocial do desenvolvimento é a adolescência.


Erikson ao contrário de Freud tem na sua base teórica uma psicologia do Ego e não do Id. O Ego segundo Erikson está envolvido num processo de adaptação, de melhor enquadramento da pessoa no mundo, existe já à nascença dotado da sua própria fonte de energia e separado do Id;


Não podemos esquecer que apesar das diferenças ambos procuraram definir a forma como o ser humano pode autorealizar-se e lidar com os conflitos psíquicos.