A
Intervenção Precoce destina-se a crianças até à idade escolar que estejam em
risco de atraso de desenvolvimento, manifestem deficiência, ou necessidades
educativas especiais. Consiste na prestação de serviços educativos, terapêuticos
e sociais a estas crianças e às suas famílias com o objetivo de minimizar efeitos
nefastos para o seu desenvolvimento.
A
Intervenção Precoce pode ter uma natureza preventiva secundária ou primária:
procurando contrariar a manifestação de problemas de desenvolvimento ou
prevenindo a sua ocorrência.
Os
programas de Intervenção Precoce devem, sempre que possível, decorrer no meio
ambiente onde vive a criança.
Habitualmente
a intervenção inicia-se com a sinalização; geralmente feita pelo hospital, creche,
jardim infantil, ou pela própria família. Seguidamente é realizada a
avaliação/diagnóstico e implementado um programa de intervenção.
A Intervenção Precoce pode iniciar-se entre o nascimento e a idade escolar, no
entanto há muitas vantagens em começar o mais cedo possível.
Porquê
intervir precocemente?
Existem
três razões fundamentais:
-
Quanto mais cedo se iniciar a intervenção maior é potencial de desenvolvimento
de cada criança;
-
Para proporcionar apoio e assistência à família nos momentos mais críticos;
-
Para maximizar os benefícios sociais da criança e da família
A
investigação nesta área já demonstrou que grande parte das aprendizagens e do
desenvolvimento ocorre mais rapidamente na idade pré-escolar. O momento em que
é proporcionada a intervenção é, por isso, particularmente importante já que a
criança corre o risco de perder oportunidades de desenvolvimento durante os
estádios mais propícios.
Se esses momentos não forem aproveitados, mais tarde a criança pode vir a
manifestar maiores dificuldades de aprendizagem.
Estudos
recentes acentuam o facto de que o potencial de cada criança só será completamente
manifestado se houver a identificação precoce e uma intervenção programada e
individualizada.
Os
serviços de Intervenção Precoce podem ter um impacto significativo nos pais e
irmãos das crianças em risco. As famílias destas crianças geralmente vivem
sentimentos de deceção, isolamento social, stress, frustração e desespero.
O stress acrescido que a presença de uma
criança com deficiência implica pode afetar o bem-estar da família e interferir positivamente no desenvolvimento da criança. As famílias de crianças com deficiência são mais
susceptíveis de viver situações como o divórcio e o suicídio e, de igual forma,
as crianças com deficiência são mais susceptíveis de abuso e negligência do que
as crianças sem deficiência.
A
Intervenção Precoce deve resultar no desenvolvimento de melhores atitudes
parentais relativamente aos próprios pais e aos seus filhos com deficiência. Deve
proporcionar mais informação e melhores competências para lidar com a sua
criança, e incentivar a libertação de algum tempo para o descanso e lazer (tarefa muito complexa, uma vez que essas crianças costumam exigir muita e constante dedicação e assim absorver imenso do tempo e do esforço dos cuidadores).
Um
outro motivo que justifica a importância da Intervenção Precoce diz respeito
aos ganhos sociais alcançados. O incremento do desenvolvimento da criança
envolve a diminuição das situações de dependência em relação a instituições de apoio social, o
aumento da
capacidade da família para lidar com a presença de um filho com deficiência e
o possível aumento das suas capacidades deste para vir a ter um emprego.
A
Intervenção Precoce é eficaz?
Cerca
de cinquenta anos de investigação nesta área permitiram obter informação
quantitativa (baseada nos resultados de investigações longitudinais) e
qualitativa (depoimentos de pais e professores) que demonstra que a Intervenção
Precoce proporciona
ganhos ao nível do desenvolvimento e educação das crianças que dela
beneficiam, melhora o nível de funcionamento da família e produz benefícios
económicos e sociais a longo prazo.
A
Intervenção Precoce demonstra resultados positivos nas crianças que dela
beneficiam porque quando estas crianças crescem necessitam menos de educação
especial.
A
investigação longitudinal efetuada com um grupo de crianças provenientes de
meios social e economicamente desfavorecidos demonstrou que se mantiveram
ganhos significativos. Estas crianças obtiveram melhores resultados escolares e
muitas acabaram o ensino básico obrigatório e seguiram programas de formação
profissional. Estes jovens mostraram, em média, melhores resultados do que
outros do mesmo estrato social que não beneficiaram de qualquer programa de
intervenção precoce. Comparativamente a outros jovens da mesma classe social,
obtiveram melhores resultados
em testes de leitura, aritmética e linguagem e manifestaram menos manifestações de
comportamentos antissociais e delinquentes.
Quais
os aspetos essenciais para a eficácia da Intervenção Precoce?
Têm
sido feitas várias tentativas para identificar quais os aspetos mais
importantes para garantir a eficácia da Intervenção Precoce. Verificou-se que
existem alguns fatores que são comuns aos programas de Intervenção Precoce que
obtêm melhores resultados. São eles:
-
A idade da criança à data do inicio da intervenção;
- O envolvimento dos pais;
- A intensidade e/ou estruturação do modelo do programa de Intervenção Precoce adotado.
Diversos estudos demonstram que quando mais cedo se iniciar a intervenção maior é a sua eficácia. Quando a intervenção é iniciada logo após o nascimento ou pouco tempo após ser feito o diagnóstico de deficiência ou de alto risco, os ganhos ao nível do desenvolvimento são maiores e a probabilidade de se manifestarem outros problemas é menor.
O envolvimento dos pais na intervenção é também muito importante. As famílias de crianças com deficiência ou em risco necessitam de um maior apoio social e instrumental e de desenvolver as competências necessárias para lidar com os filhos com necessidades especiais.
Os principais resultados da Intervenção com a família dizem respeito ao aumento da capacidade dos pais para lidarem com o problema da criança, que leva necessariamente à redução do stress familiar. Estes fatores aparentam desempenhar um papel importante no sucesso dos programas de intervenção junto da criança.
A estruturação dos programas de Intervenção Precoce está também relacionada com os seus resultados, independentemente do modelo curricular utilizado. Os programas de maior sucesso são geralmente os mais estruturados. Isto significa que os casos de sucesso registam-se em programas que:
-
Definem operacionalmente e monitorizam frequentemente os objetivos;
-
Identificam com precisão os comportamentos a desenvolver e as actividades que
serão desenvolvidas em cada sessão;
-
Utilizam procedimentos de análise de tarefas;
-
Avaliam regularmente o desenvolvimento da criança e utilizam os registos de
progressão no planeamento da intervenção.
A
intervenção individualizada e dirigida às necessidades específicas da criança
também surge associada a bons resultados, o que não significa necessariamente
um trabalho de um para um (na relação técnico/"paciente"). As actividades de grupo podem ser estruturadas de forma
a ir ao encontro das necessidades educativas de cada criança.
(Texto Adaptado de CERCIFAF)
(Vide Decreto-Lei n.º 281/2009 de 6 de Outubro)
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