sexta-feira, 30 de março de 2007

Comentários/reflexões

No sentido estritamente económico (do business), não há propriamente empresas virtuais, a não ser em casos como nos Jogos de Gestão do Expresso, por exemplo, em que jogadores factuais e logo, actuais, se associam em equipas que formam "empresas" a fim de disputar um jogo do tipo "Monopólio"; fora desse domínio a designação "empresas virtuais", significa apenas por comodidade de linguagem e para utilizar um jargão hodierno, empresas que são entidades também factuais e actuais, uma vez que a sua existência tem por objectivo a prestação de serviços e a geração de mais - valias, mas em que do ponto de vista dos métodos de organização se recorre a técnicas de comunicação virtual, explorando a panóplia de possibilidades que hoje existem nesse domínio o que nós, embora modestamente e sem fins lucrativos, estamos também a tentar fazer. No sentido estritamente económico, portanto, não haverá propriamente empresas virtuais, mas empresas que utilizam meios virtuais, um dos quais o teletrabalho, que torna possível a execução de um conjunto vasto de tarefas " sem saír de casa". Claro está que todas as soluções trazem problemas e esta não constitui excepção, uma vez que o trabalhador atomizado corre sérios riscos de isolamento psicossocial que radicam no seu isolamento físico; é evidente que estamos a assistir a uma profunda mutação no domínio da sociabilidade, pelo menos para muito diferente e sem nenhumas garantias que seja para melhor : numa primeira observação, já algo longa, longa até demais para ser meramente impressionista, sugere-se até o contrário. De facto, utilizando meios virtuais pode-se comprar ou vender café, mas não se pode tomar café com os colegas; claro está que pode convidar-se os colegas para tomar café, mas se um estiver em Singapura, o outro em Cabo Verde e um terceiro, por hipótese, em Helsínquia, vai tornar-se algo difícil, a não ser que cada um tome o seu café e utilizando a webcam partilhem virtualmente o ritual. Também está a ser muito problemática a questão, digamos, do "referente" que passa a ser a ausência de um local físico em que as pessoas , ao menos umas quantas vezes, se encontrem. Sendo também certo que muitas empresas que recorrem às tecnologias da informação e da comunicação, agrupam os seus operadores em "Call Centers" em que partilham um espaço físico comum.
A propósito, não posso deixar de citar um recente artigo de Miguel Sousa Tavares em que salientava os prodígios das novas tecnologias, dizendo mais ou menos isto: " hoje em qualquer lado se pode trabalhar, basta ter um portátil e um telemóvel". É caso para perguntar se para trabalhar nas obras de construção da Barragem do Alqueva, se o portátil e o telemóvel serão suficientes, talvez no " mundo virtual" em que vive Sousa Tavares.
A utilização do ciberespaço e a instantaneidade do tempo de comunicação, o " tempo real", são um passo de gigante na aceleração de um e na neutralização de outro; podem já transaccionar-se carne, batatas e ovos pela net, não pode é comer-se bitoques através dela, o que demonstra que neste campo, como aliás, em todos, não há solução que não traga problemas. A alternativa virtual só funciona enquanto efeito de desmaterialização daquilo e só daquilo, que pode ser desmaterializado ; mais uma vez, aqui subsiste o problema do referente, se quisermos desrealizar o mundo teremos sempre a resistência do real, e o real na sua íntima realidade não costuma ser uma ficção; a sua entificação pode ser sujeita a mutações, não pode é deixar de ser.
São relativamente pacíficas as virtualidades do virtual,na sua não oposição fáctica ao real mas apenas ao actual, se bem entendi o conceito, naquilo a que o bom senso, que deve ser "o bem melhor distribuído do mundo" convier; no entanto devemos também convir que deve haver espaços e tempos na vida que constituam redutos da actual e actualizável "naturalidade" pois é muito mais fácil ser-se quem se não é virtualmente, do que cara a cara, o que quer dizer que o problema da oposição entre a realidade e o simulacro, subsiste e até se complica neste domínio.
Post Scriptum: esta é apenas uma contribuição inicial para o debate, mas dado o adiantado da hora e o alongado do texto, vou deixá-la ficar por aqui. Terei todo o gosto em voltar ao tema, analisando a utilização do virtual como estratégia que se insere no acelerar da Mobilização geral do humano, num sentido que corre riscos de entrar em " roda livre" e de se tornar senão desumano, pelo menos, inumano, aliás, os sintomas estão à vista, o que não significa que se possa ou deva passar ao lado do fenómeno que é, de facto, incontornável.

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