sexta-feira, 30 de março de 2007

Comentários/reflexões


O Mestre Descartes, após muito cogitar, encontrou uma espécie de " ovo de Colombo" quando resolveu iniciar na ordem cronológica, a sua Metafísica pela " res cogitans"; de facto esse recurso ao imaterial permitiu-lhe resolver satisfatoriamente um problema que no seu tempo, era candente. Hoje podemos transpor este problema, por analogia, para a relação que se estabelece entre o pensamento e a chamada"realidade virtual" e incluir nesta problemática a mediação que a torna possível, a da máquina; no entanto, esta mediação já não é nova, nem sequer em termos de tecnologias da comunicação , basta que nos lembremos que ainda o séc. XIX ia tenro quando Morse desenvolveu o telégrafo cuja linguagem era o célebre código que tem o seu nome e que permaneceu operacional até ao muito avançado séc. XX ( quem tem mais de 40 anos lembra-se, concerteza, da Marconi e dos seus boletineiros que entregavam telegramas). É óbvio que sem a intermediação da máquina tal não teria sido possível; a própria imprensa e também a rádio e a televisão só foram possíveis pela intermediação de máquinas mais ou menos sofisticadas, desde a tipografia fixa até à móvel, desde a telegrafia por cabo até à telegrafia sem fios, vulgo telefonia, aos vários avatares da televisão; tudo, para se constituir, implicou a mediação de máquinas. Áliás, o conceito de máquina remete mais para uma funcionalidade do que para uma complexidade, na verdade há até máquinas bem simples( uma alavanca, por exemplo).
O que se passa é que para além da real complexidade das máquinas hoje em dia utilizadas na informação e na comunicação, e essas não são de modo algum virtuais: as máquinas existem, estão lá, digamos assim, ocupam espaço, têm até, algumas, dimensões apreciáveis do ponto de vista físico e somente os seus efeitos possibilitam uma espécie de concretização do virtual. Não há, que eu saiba,efeitos virtuais produzidos por engenhos virtuais, o problema está antes, na dimensão e na utilização.
Com a acessibilidade e a portabilidade deu-se início a uma democratização do uso de instrumentos como o computador e o telefone móvel que até recentemente, não podiam ser utilizados com facilidade por toda a gente em qualquer lugar, e esta é que é a verdadeira revolução. A nossa maneira de pensar está há muito moldada por essa intermediação, trata-se agora do problema da utilização. Com efeito, a televisão tradicional, digamos assim, não é interactiva, e mesmo aquela que muitas vezes utiliza esse nome, não o é de facto, enquanto que a utilização da internet pode sê-lo mais facilmente , se bem que muitas vezes esta dimensão da interactividade se apresente de forma falaciosa: se eu tiver um blog blindado em que não sejam permitidos posts abertos, ela não é de facto interactiva, ou seja, na "democracia virtual", subsiste a questão do poder, do mesmo modo grosseiro que numa família quem manda na programação da TV é quem tem o comando na mão.
Este terreno presta-se geralmente a uma série de equívocos e ainda que não queiramos ser luddites, não podemos deixar de assinalar que há um certo discurso da " banha da cobra" tecnológica, que tende a apresentar-se como panaceia universal e que sofisticamente omite alguns pequenos pormenores dessa natureza - de que para enganar os tansos é melhor não falar; trata-se da velha táctica de " êpater le bourgeois"; é claro que como todos os discursos falaciosos ele não resiste a um mínimo de crítica e para citar em jeito de homenagem um outro Mestre recém-desaparecido e refiro-me a Baudrillard ( é claro que não é nenhum Descartes, mas os tempos também são outros): " A simulação já não é a simulação de um território, de um ser referencial, de uma substância. É a geração pelos modelos de um real sem origem nem realidade: hiper-real... O deserto do próprio real". ( in "Simulacros e Simulação").
Neste momento somos obrigados, por dever de lucidez, a ser uma espécie de Descartes ao contrário, e em vez de começarmos a nossa ordem das substâncias pela Substância insubstancial é melhor que quando acordamos, pela manhã, para os que o fazem, verifiquemos, pelo simples pôr dos pés no chão,( sim, não vale a pena dar cabeçadas nas paredes) se o mundo ainda existe e é claro que como existe, temos o imperativo de partir dele.
Post Scriptum: Claro que já há máquinas que pensam, no domínio da chamada Inteligência Artificial, mas não são estas que estamos a utilizar, apesar de estarem numa fase ainda embrionária, são só para aí 'n' vezes mais complexas.



Comentários/reflexões

No sentido estritamente económico (do business), não há propriamente empresas virtuais, a não ser em casos como nos Jogos de Gestão do Expresso, por exemplo, em que jogadores factuais e logo, actuais, se associam em equipas que formam "empresas" a fim de disputar um jogo do tipo "Monopólio"; fora desse domínio a designação "empresas virtuais", significa apenas por comodidade de linguagem e para utilizar um jargão hodierno, empresas que são entidades também factuais e actuais, uma vez que a sua existência tem por objectivo a prestação de serviços e a geração de mais - valias, mas em que do ponto de vista dos métodos de organização se recorre a técnicas de comunicação virtual, explorando a panóplia de possibilidades que hoje existem nesse domínio o que nós, embora modestamente e sem fins lucrativos, estamos também a tentar fazer. No sentido estritamente económico, portanto, não haverá propriamente empresas virtuais, mas empresas que utilizam meios virtuais, um dos quais o teletrabalho, que torna possível a execução de um conjunto vasto de tarefas " sem saír de casa". Claro está que todas as soluções trazem problemas e esta não constitui excepção, uma vez que o trabalhador atomizado corre sérios riscos de isolamento psicossocial que radicam no seu isolamento físico; é evidente que estamos a assistir a uma profunda mutação no domínio da sociabilidade, pelo menos para muito diferente e sem nenhumas garantias que seja para melhor : numa primeira observação, já algo longa, longa até demais para ser meramente impressionista, sugere-se até o contrário. De facto, utilizando meios virtuais pode-se comprar ou vender café, mas não se pode tomar café com os colegas; claro está que pode convidar-se os colegas para tomar café, mas se um estiver em Singapura, o outro em Cabo Verde e um terceiro, por hipótese, em Helsínquia, vai tornar-se algo difícil, a não ser que cada um tome o seu café e utilizando a webcam partilhem virtualmente o ritual. Também está a ser muito problemática a questão, digamos, do "referente" que passa a ser a ausência de um local físico em que as pessoas , ao menos umas quantas vezes, se encontrem. Sendo também certo que muitas empresas que recorrem às tecnologias da informação e da comunicação, agrupam os seus operadores em "Call Centers" em que partilham um espaço físico comum.
A propósito, não posso deixar de citar um recente artigo de Miguel Sousa Tavares em que salientava os prodígios das novas tecnologias, dizendo mais ou menos isto: " hoje em qualquer lado se pode trabalhar, basta ter um portátil e um telemóvel". É caso para perguntar se para trabalhar nas obras de construção da Barragem do Alqueva, se o portátil e o telemóvel serão suficientes, talvez no " mundo virtual" em que vive Sousa Tavares.
A utilização do ciberespaço e a instantaneidade do tempo de comunicação, o " tempo real", são um passo de gigante na aceleração de um e na neutralização de outro; podem já transaccionar-se carne, batatas e ovos pela net, não pode é comer-se bitoques através dela, o que demonstra que neste campo, como aliás, em todos, não há solução que não traga problemas. A alternativa virtual só funciona enquanto efeito de desmaterialização daquilo e só daquilo, que pode ser desmaterializado ; mais uma vez, aqui subsiste o problema do referente, se quisermos desrealizar o mundo teremos sempre a resistência do real, e o real na sua íntima realidade não costuma ser uma ficção; a sua entificação pode ser sujeita a mutações, não pode é deixar de ser.
São relativamente pacíficas as virtualidades do virtual,na sua não oposição fáctica ao real mas apenas ao actual, se bem entendi o conceito, naquilo a que o bom senso, que deve ser "o bem melhor distribuído do mundo" convier; no entanto devemos também convir que deve haver espaços e tempos na vida que constituam redutos da actual e actualizável "naturalidade" pois é muito mais fácil ser-se quem se não é virtualmente, do que cara a cara, o que quer dizer que o problema da oposição entre a realidade e o simulacro, subsiste e até se complica neste domínio.
Post Scriptum: esta é apenas uma contribuição inicial para o debate, mas dado o adiantado da hora e o alongado do texto, vou deixá-la ficar por aqui. Terei todo o gosto em voltar ao tema, analisando a utilização do virtual como estratégia que se insere no acelerar da Mobilização geral do humano, num sentido que corre riscos de entrar em " roda livre" e de se tornar senão desumano, pelo menos, inumano, aliás, os sintomas estão à vista, o que não significa que se possa ou deva passar ao lado do fenómeno que é, de facto, incontornável.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Recursos Didácticos e Propostas de Actividades

O que é o Homem?

A Unidade 9 do Curso SUC tem como"matéria" a pequena obra de Kant -
-" Fundamentação da Metafísica dos Costumes"; pequena na dimensão, mas enorme na riqueza de conteúdos.
Visa esta obra constituir uma versão de divulgação para um público vasto da Ética de Kant e um " prelúdio" a uma "Metafísica dos Costumes" que com a "Crítica da Razão Prática" constituem a substância da sua obra Ética. Assim, a publicação da "Fundamentação" data de 1785, a da "Crítica da Razão Prática" de 1788 e a da "Metafísica dos Costumes" de 1797.
Estas obras inserem-se no vastíssimo contexto do sistema kantiano, digamos que num segundo momento; o primeiro, que inclui como obra emblemática a monumental "Crítica da Razão Pura" (1781) é dedicado ao problema do conhecimento, este segundo à questão da acção. Haverá ainda um terceiro de carácter metafísico-problemático.
Em síntese, o sistema de Kant, enquanto Antropologia Fundamental, visa responder à questão que serve de epígrafe a este texto: " O que é o Homem?" Esta questão fundamental encontra-se desdobrada em três outras: "Que posso saber?"
"Que devo fazer?"
"Que me é permitido esperar?"
A primeira remete, obviamente, para a questão do conhecimento;
a segunda, para a questão da acção moral;
a terceira, para o problema da religião.
À primeira questão Kant vai responder de uma forma original, superando a velha distinção entre Racionalismo e Empirismo, fundando o Idealismo Transcendental, que avisa ser um idealismo gnosiológico a que corresponde um realismo empírico, ou seja, contrariamente aos idealismos empíricos que acabam por corresponder, muitas vezes, a realismos gnosiológicos ou então, a cepticismos mais ou menos radicais do ponto de vista do conhecimento, a que correspondem dogmatismos por falta de alternativas no domínio da apreensão. Quer dizer, se não concebermos a realidade da experiência como substancial, teremos que a fundamentar em "insubstancialidades" estabelecidas tais como, as noções de Ideia, Deus, Mundo, Alma, etc., que só se podem estabelecer ao nível do conhecimento dogmaticamente, pelo que Kant as exclui do campo do conhecimento e as remete para o do pensamento racional. Deixam assim, de ser equivalentes as esferas do pensar e do conhecer. Doravante estarão separados os campos da Metafísica e da Ciência.
Post Scriptum: Este texto será lido pela aluna, através do seu software específico e destina-se a problematização e debate quer na aula, quer no Blog.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Iniciação



Iniciação cheira a esoterismo; não é essa , no entanto, a minha intenção. Neste momento quero tão só, abrir uma via de comunicação pedagógica que possibilite o intercâmbio de informação e de instrumentos de avaliação dos alunos dos SUC de Filosofia das Unidades 8 , 9 e 10.
Esta via será especialmente dedicada a uma aluna especial, a Simone Cruz, que maneja muito melhor do que eu estes instrumentos, mas como acontece ser eu o professor ,vou tentar ensinar-lhe filosofia(que pretensioso!...) e aprender com ela, para além das TICs que ela domina praticamente na perfeição, também algo do modo como ela experiencia a própria disciplina, para além da vida, claro!