A perspectiva sistémica transaccional
caracteriza-se deste modo:
caracteriza-se deste modo:
Os aspectos de um sistema, isto é a pessoa e o contexto, coexistem
e definem-se em conjunto e contribuem para o significado e natureza de um
acontecimento holístico (no seu todo).
Os sistemas são compostos por actores
inseparáveis envolvidos em processos psicológicos dinâmicos (acções e processos intra-psicológicos) em contextos sociais e físicos.
"Assim, nesta perspectiva, as acções e relações de cada
elemento só podem ser entendidas em função das acções e relações dos outros
elementos e das circunstâncias situacionais e temporais onde ocorrem".
Ao contrário de outros modelos que encaram o estudo de
unidades estáticas ou estruturas, o objecto de análise destes modelos é a
própria mudança que vai ocorrendo nos sistemas de relações. Os resultados da
mudança não se podem prever, mas as dinâmicas dos acontecimentos psicológicos
podem ter características comuns em acontecimentos históricos semelhantes.
Modelo Transaccional
Ao expor o modelo
transaccional, Sameroff (1983) faz uma revisão da teoria geral dos sistemas de
Von Bertallanffyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_de_sistemas (1968) realçando a importância de distinguir entre sistemas
fechados - estruturas específicas cujas operações são redutíveis a alguns
princípios básicos - e sistemas abertos - estruturas que mantêm a sua
organização apesar da troca entre as suas várias partes e o ambiente.
Considera que o desenvolvimento envolve a interacção auto-dirigida das crianças com os seus ambientes e a mudança progressiva da
organização do comportamento em função da experiência.
Assim, o desenvolvimento dependeria de:
. Características biológicas que estruturam as formas como
o ambiente é experienciado pela criança;
. Estruturas sociais e técnicas da cultura em que esta se
insere
. Características psicológicas da criança encaradas como
resultantes da relação entre as características biológicas e as estruturas
sociais.
Laszlo (1972, referido por Sameroff, 1983) considera que
os sistemas têm quatro propriedades:
. Totalidade e ordem,
. Auto-estabilização adaptativa,
. Auto-organização adaptativa,
. Hierarquias
sistémicas.
A estas, Sameroff acrescenta uma quinta propriedade:
. a transaccional - que pressupõe que o organismo
introduz alterações no seu ambiente pelo próprio funcionamento, criando
situações adaptativas novas que, por sua vez, vão exigir novas mudanças ao
organismo.
Sameroff (1983) apresenta este modelo contextualista como
uma visão que abrange aspectos dos modelos mecanicistas e organísmicos.
Segundo ele, a visão contextual não substitui, mas antes
vem acrescentar algo aos dois modelos anteriores e a teoria geral dos sistemas fornece um modelo que os combina: "
Cada sistema existe no contexto de relações hierárquicas e
relações com o ambiente. A análise das interfaces hierárquicas combina
elementos organísmicos e mecanicistas.
O modelo transaccional de Sameroff e Chandler (1975)
enfatiza o facto de que a criança e os vários prestadores de cuidados se
influenciam mutuamente ao longo do tempo. Desafiando o paradigma do contínuo da
causalidade reprodutiva gerado na sequência do modelo maturacionista de Gesell,
propõem um novo paradigma, contínuo da causalidade de prestação de cuidados através
do qual descrevem os efeitos dos factores familiares, sociais e ambientais no
desenvolvimento humano, no quadro do modelo transaccional. Não negando que causalidades
reprodutivas podem ter um papel desencadeador de determinados problemas,estes
autores acreditam que a forma como o ambiente físico e social vai lidar com a
situação é, em última análise, o que determina a situação final. Numa
formulação posterior do modelo transaccional, Sameroff e Fiese (2000) clarificam
as relações estreitas entre a criança e o contexto, referindo: "
No modelo transaccional, o desenvolvimento da criança é visto
como o produto das interacções contínuas e dinâmicas da criança e da experiência providenciada pela sua família e
contexto social. O que é inovador no modelo transaccional é a igual ênfase
posta nos efeitos da criança e do ambiente, de tal forma que as experiências
proporcionadas pelo ambiente não são encaradas como independentes da criança. O desenvolvimento não pode ser sistematicamente descrito sem uma análise dos
efeitos do ambiente na criança.
A adopção do modelo transaccional implica aceitar por um
lado que os factores do ambiente podem modificar falhas biologicamente
determinadas e, por outro, que há vulnerabilidades desenvolvimentais que têm
uma etiologia ambiental , o que se torna de
extrema importância no trabalho com crianças em situação de risco ou com
deficiência. No âmbito deste modelo, realça-se a importância
dos processos de regulação entre a criança, a família e os sistemas culturais,
que devem ser analisados na sua dimensão temporal, nos seus objectivos, níveis de
representação e contribuições específicas da criança.
Consideram-se três níveis nos processos de regulação em
constante interdependência:
•Macro-regulações - que marcam mudanças
"cruciais" na experiência e continuam por um período alargado de
tempo, sendo fundamentalmente determinadas por factores culturais;
•Mini-regulações - que se desenvolvem no contexto familiar
e são fundamentalmente actividades de rotina, que se repetem numa base diária;
•Micro-regulações - que são interacções momentâneas
automáticas e inconscientes entre a criança e o adulto que dela cuida.
No que respeita à intervenção, este modelo transaccional
é proposto como modelo teórico de referência e tem consequências
importantes, nomeadamente na identificação de objectivos e estratégias de intervenção:
As mudanças no
comportamento são o resultado de uma série de trocas entre indivíduos no âmbito
de um sistema partilhado, seguindo princípios reguladores específicos.
Examinando as
forças e fraquezas do sistema regulador, podem ser identificados objectivos que
minimizam a amplitude da intervenção e maximizam a sua eficiência.
Os autores identificam três tipos de estratégias de intervenção:
. A remediação: que se destina a introduzir modificações no comportamento da criança com a ocorrência de eventuais modificações no comportamento dos pais e que tem como
principal objectivo a adequação da criança a competências parentais
pré-existentes, que seriam adequadas se a criança tivesse as respostas
apropriadas;
. A redefinição: que está indicada quando os códigos
familiares não enquadram nem aceitam o comportamento da criança e tem
como principal objectivo a facilitação de interacções parentais mais adequadas,
actuando no contexto da experiência presente e não relativamente a
acontecimentos do passado, implicando que os pais conseguem identificar áreas de
funcionamento normal;
. A reeducação: que se refere ao ensino dos pais e está
indicada quando estes não têm as competências parentais básicas para regular o
comportamento do seu filho e o comportamento parental adequado não fizer parte
do seu repertório.
Os três "R" da intervenção têm grande
importância para a intervenção precoce.
Tomando como exemplo uma criança com problemas orgânicos, Sameroff e Fiese (2000) referem que a estratégia da remediação teria como objectivo primordial alterar as condições orgânicas da criança, o que permitiria que a criança se tornasse mais competente para provocar comportamentos de prestação de cuidados por parte dos pais. A estratégia de redefinição teria como objectivo mudar a forma como os pais percepcionam o comportamento da criança, focando a sua atenção para as características positivas do seu filho, permitindo assim uma interacção mais adequada. Finalmente a estratégia da reeducação teria como objectivo modificar os comportamentos dos pais relativamente à criança, através do ensino de técnicas específicas adequadas às características de cada criança.
Tomando como exemplo uma criança com problemas orgânicos, Sameroff e Fiese (2000) referem que a estratégia da remediação teria como objectivo primordial alterar as condições orgânicas da criança, o que permitiria que a criança se tornasse mais competente para provocar comportamentos de prestação de cuidados por parte dos pais. A estratégia de redefinição teria como objectivo mudar a forma como os pais percepcionam o comportamento da criança, focando a sua atenção para as características positivas do seu filho, permitindo assim uma interacção mais adequada. Finalmente a estratégia da reeducação teria como objectivo modificar os comportamentos dos pais relativamente à criança, através do ensino de técnicas específicas adequadas às características de cada criança.
.Em 1985,
Sameroff, referido por Sameroff e Fiese (1990, 2000) introduz o conceito de
Mesotipo. À semelhança do genotipo que regula o desenvolvimento físico de cada
criança, o mesotipo, através da família e da organização social em que a mesma
está inserida, regula a forma como cada indivíduo se insere na sociedade.
Através de códigos culturais, familiares e de cada um dos progenitores
estabelece-se uma regulação cognitiva e sócio-emocional que vai actuar e
influenciar o desenvolvimento e comportamento de cada criança. Assim, poderá
dizer-se que num dado momento:
O comportamento da criança é o produto de transacções
entre o fenotipo, isto é, a criança, o mesotipo, isto é, a fonte de experiência
externa, e o genotipo, isto é, a fonte de organização biológica.
Segundo os mesmos autores a investigação numa
perspectiva transaccional deve assim dar atenção ao estudo de:
•Códigos culturais, que determinam, numa determinada
cultura, a organização do sistema de socialização e educação das crianças;
•Códigos familiares, que regulam o desenvolvimento de
cada elemento da família para que cada um desempenhe o papel que lhe
foi atribuído no seio dessa mesma família, sendo essa regulação feita através dos
rituais, histórias, mitos e paradigmas de cada família;
•Códigos individuais de cada um dos progenitores que
estão relacionados com as regulações dentro da sua própria família de origem e
que influenciam as respostas de cada um à criança, regulando assim o
comportamento desta. O estudo de Bailey, Skinner, Rodriguez et al. (1999) é um
exemplo de investigação nesta perspectiva. Neste trabalho, que é parte de
um estudo mais vasto sobre a forma como as mães de Porto Rico e Mexicanas
percepcionam o facto de terem um filho com deficiência e a forma como se adaptam
a essa situação, os autores analisam o conhecimento, uso e satisfação com os
serviços de intervenção precoce numa amostra de famílias destas comunidades.
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