No Prefácio à Fundamentação da Metafísica dos Costumes Kant explica o objecto da Ética, considerando que tradicionalmente a velha Filosofia grega se dividia em três ciências: a Física, a Ética e a Lógica.
A Lógica não tem qualquer parte empírica ou seja, o seu objecto será pensamento puro e a sua expressão, será uma ciência puramente formal.
Já a Física e a Ética possuem ambas a sua parte empírica: a primeira, enquanto ciência da natureza, tem por objecto o mundo dos fenómenos, ou seja, o mundo como é; e a segunda, enquanto " ciência da liberdade" terá por objecto, o mundo como deve ser e também a avaliação das razões que fazem a diferença entre o que deveria acontecer e o que realmente acontece.
Outra noção importante da Ética kantiana expressa na FMC é a da insistência do autor na diferença entre conformidade e respeito, indo ao ponto de afirmar que mesmo no feliz acaso de uma alma generosa que encontre comprazimento em semear o bem, esse não será motivo de respeito mas tão só digno de ser honrado, uma vez que a motivação em que assenta não é o puro dever, mas a auto-gratificação.
Esta é a caracterização mais essencial da Ética kantiana enquanto Ética deontológica , as acções não valem em si, mas valerão no enquadramento global que começa na intenção; eis porque uma boa acção realizada por menos bons motivos perde o seu estatuto de acto puramente moral.
Um terceiro aspecto importante que é de salientar, é o da necessidade do imperativo categórico que o autor faz radicar na imperfeição constitutiva da vontade humana. Uma vez que a vontade humana não é a priori determinada pela razão e bem pelo contrário, é mais facilmente influenciável pela imediatez da inclinação, ou pelo cálculo oportunista do interesse , o sujeito terá de se vincular ao plano da razão através de um mandamento absoluto e incondicionado, patente no imperativo categórico, que Kant considera o mandamento da moralidade por excelência. O imperativo categórico, por contraposição ao imperativo hipotético não considera apenas meios para atingir fins, mas centra-se na finalidade em si mesma: o que está em causa não é a mera adequação das acções capazes de produzir um determinado resultado, mas o princípio em si mesmo que traduz uma finalidade boa em si mesma, sem que se parta de qualquer " se", que afinal, constitui o termo inicial da formulação do imperativo hipotético. " Se" traduz suposição, condição, hipótese; o imperativo categórico, pelo contrário, ordena categoricamente.