O conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo de ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que desejam ser.
Diferentemente da perspectiva da consideração única do crescimento económico, que vê o bem-estar de uma sociedade apenas pelos recursos ou pelo rendimento que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as pessoas, para as suas oportunidades e capacidades. O rendimento é importante, mas como um dos meios do desenvolvimento e não como o seu fim. É uma mudança de perspectiva: com o desenvolvimento humano, o foco é transferido de uma única dimensão, o crescimento económico, ou do rendimento, para o ser humano na sua multiplicidade.
Muitas vezes o crescimento económico, por si só, não é em absoluto sinónimo de Desenvolvimento. Exemplos não faltam de países em que o crescimento económico convive com assimetrias de toda a ordem.
Muitas vezes o crescimento económico, por si só, não é em absoluto sinónimo de Desenvolvimento. Exemplos não faltam de países em que o crescimento económico convive com assimetrias de toda a ordem.
O conceito de Desenvolvimento Humano também parte do pressuposto de que para aferir o avanço na qualidade de vida de uma população é preciso ir além da perspectiva puramente económica e considerar outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. Esse conceito é a base do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicados anualmente pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Assim o Desenvolvimento Humano considera para além do Rendimento (ou "Renda" na linguagem dos economistas), a Saúde e a Educação como dimensões essenciais que permitem aferir o Índice de Desenvolvimento Humano.
O objetivo da criação do Índice de Desenvolvimento Humano foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão económica do desenvolvimento. Criado pelo econonomista paquistanês Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, vencedor do Prémio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". Democracia, participação, equidade, sustentabilidade são outros dos muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados no IDH. O IDH tem o grande mérito de sintetizar a compreensão do tema e ampliar e fomentar o debate.
Desde 2010, quando o Relatório de Desenvolvimento Humano completou 20 anos, novas metodologias foram incorporadas para o cálculo do IDH. Atualmente, os três pilares que constituem o IDH (saúde, educação e rendimento) são calculados da seguinte forma:
- Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida;
- O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que um criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança;
- E o padrão de vida (rendimento) é medido pela Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita expresso em paridade de poder de compra (PPP) constante, em dólares, tendo 2005 como ano de referência.
Publicado pela primeira vez em 1990, o índice é calculado anualmente. Desde 2010, a sua série histórica é recalculada devido ao movimento de entrada e saída de países e às adaptações metodológicas, o que possibilita uma análise de tendências. Aos poucos, o IDH tornou-se uma referência mundial. É um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas .
O IDH é uma medida média das conquistas de desenvolvimento humano básico em cada país.
Têm surgido outras Dimensões e até Índices como os já referidos relativos à "Felicidade" e ao "melhor lugar para se viver" ou ainda à "melhor empresa para trabalhar". Esta problemática está longe de estar esgotada. No entanto, para determinar resultados com rigor teremos que estar atentos a questões de natureza metodológica, nomeadamente à recolha de dados e à sua validade e fiabilidade tendo em conta a subjectividade que podem comportar, sobretudo no caso dos chamados inquéritos de satisfação (muitas pessoas poderão achar que o que faz falta são estádios de futebol, mesmo onde não há, por exemplo, saneamento básico, no que se pode chamar problemática do "samba, suor e cerveja" - a revolta popular no Brasil, por exemplo, não é estranha a isso e também à existência de uma nova classe média politicamente mais exigente - ou na muito mais antiga, mas infelizmente sempre actual, formulação dos romanos: "pão e circo").
Em qualquer dos casos o Índice de Desenvolvimento Humano e a sua determinação estatística, com todos os problemas da sua transposição para o "mundo real" que, muitas vezes, o "mundo dos números" não espelha bem (basta recordarmos a relação entre os "frangos" e quem os come), significa uma enorme evolução face a dados mais imobilistas e até enganadores como o o PIB em si mesmo, ou mesmo considerado per capita, susceptíveis de esconder inúmeras desconformidades económicas, sociais, políticas e culturais e sobejamente utilizado, como outros números, para fazer demagogia, mesmo quando salta à vista, na experiência vivida, que "não bate a bota com a perdigota".