domingo, 5 de junho de 2011
O Desenvolvimento da Linguagem na Criança
A linguagem das crianças intriga linguistas e estudiosos do assunto. Sendo assim as crianças do século XII, por exemplo, apesar de terem sido crianças como as de hoje, não brincavam com os mesmos brinquedos, nem sentiam, nem pensavam, nem se vestiam como as crianças de hoje. E, certamente, as crianças desse século teriam características muito diferentes das de hoje. É interessante que, assim, surja uma interrogação: se as crianças de antigamente eram diferentes das de hoje, certamente as de amanhã também o serão. Por que é então interessante estudar a infância, se esta muda?
Na tentativa de responder a essa questão surgiram muitas teorias. Segundo Maingueneau “a aquisição da linguagem tenta explicar, entre outras coisas, o facto de as crianças, por volta dos 3 anos, serem capazes de fazer o uso produtivo das suas línguas”. Com base nisso tentaremos aqui expor alguns pontos importantes de aquisição da linguagem pela criança.
Desde muito pequeno que já existe a comunicação, mas esta não é, de início, feita por meio oral (não é verbal). A linguagem é um sistema de símbolos culturais interiorizados, e é utilizada com o fim último de estabelecer uma comunicação social. Assim, como no caso da inteligência e do pensamento, o seu desenvolvimento passa também por períodos até que a criança chegue à utilização de frases e múltiplas palavras.
Ao nascer, a criança não entende o que lhe é dito. Somente aos poucos começa a atribuir um sentido ao que escuta. Do mesmo modo acontece com a produção da linguagem falada. O entendimento e a produção da linguagem falada evoluem.
Existem diferentes tipos de linguagem: a corporal, a falada, a escrita e a gráfica. Para comunicar a criança utiliza, tanto a linguagem corporal (mímica, gestos, etc.) como a linguagem falada. Mesmo quando ainda não fala, já produz linguagem. Vamos ver como:
O desenvolvimento da linguagem divide-se em dois estádios: o pré – linguístico, quando o bebé usa de modo comunicativo os sons, sem palavras ou gramática; e o linguístico, quando já usa palavras.
No estádio pré – linguístico a criança, ao princípio, usa o choro para comunicar, podendo ser rica em expressão emocional. Logo ao nascer este choro ainda é indiferenciado, pelo que nem a mãe sabe o que ele significa, mas, aos poucos, começa a ficar cheio de significados e é possível, pelo menos para a mãe, saber se o bebé está a chorar de fome, de cólica, por estar a sentir-se desconfortável, por querer colo, etc. É importante ressaltar que é a relação do bebé com a sua mãe, ou com a pessoa que cuida dele, que lhe dá elementos para compreender o seu choro.
Além do choro, a criança começa a produzir o arrulho, que é a emissão de um som gutural, que sai da garganta, que se assemelha ao que fazem os pombos. O balbucio ocorre de repente, por volta dos 6-10 meses, e caracteriza–se pela produção e repetição de sons de consoantes e vogais como “ma–ma– ma–ma”, o que muitas vezes é confundido com a primeira palavra do bebé.
No desenvolvimento da linguagem, os bebés começam a imitar casualmente os sons que ouvem, através da ecolalia. Por exemplo: os bebés repetem várias vezes sons como o “da – da – da”, ou “ma – ma – ma – ma”. Por isso as crianças que têm problemas de audição, não evoluem para além do balbucio, já que não são capazes de ouvir. (por essa razão agora se considera que não há “mudos”, só há surdos).
Por volta dos 10 meses, os bebés imitam deliberadamente os sons que ouvem, deixando clara a importância da estimulação externa para o desenvolvimento da linguagem. No final do primeiro ano, o bebé já tem uma certa noção de comunicação, uma ideia de referência e um conjunto de sinais para comunicar com aqueles que cuidam dele.
O estádio linguístico está pronto para se estabelecer. Sendo assim, contando com a maturação do aparelho fonador da criança e da sua aprendizagem anterior, ela começa a dizer as suas primeiras palavras.
A fala linguística inicia-se geralmente no final do segundo ano de vida, quando a criança pronuncia a mesma combinação de sons para se referir a uma pessoa, a um objecto, a um animal ou a um acontecimento. Por exemplo, se a criança disser “apo” quando vir a água no biberão, no copo, na torneira, na casa de banho, etc., podemos afirmar que ela já esta a falar por intermédio de palavras. Espera–se que aos 18 meses a criança já tenha um vocabulário de aproximadamente 50 palavras, no entanto ainda apresenta características da fala pré–linguística e não revela frustração se não for compreendida.
Na fase inicial da fala linguística a criança costuma dizer uma única palavra, atribuindo-lhe, no entanto, o valor de frase. Por exemplo, diz “ua”, apontando para a porta de casa, expressando um pensamento completo; "eu quero ir para a rua". Essas palavras com valor de frases são chamadas holófrases.
A partir daqui acontece uma “explosão de nomes”, e o vocabulário cresce muito. Aos 2 anos espera–se que as crianças sejam capazes de utilizar um vocabulário de mais de cem palavras.
Entre os 2 e os 3 anos as crianças começam a adquirir os primeiros fundamentos de sintaxe, começando assim a preocupar-se com as regras gramaticais. Usam, para tanto, o que chamamos de super regularização, que é uma aplicação das regras gramaticais a todos os casos, sem considerar as excepções. É por isso que a criança quer comprar “pães” e trazê–los nas “mães”. Aos 6 anos a criança fala utilizando frases longas, tentando utilizar correctamente as normas gramaticais.
Chomsky defende a ideia de que a estrutura da linguagem é, em grande parte, especificada biologicamente (inatismo). Skinner afirma que a linguagem é aprendida inteiramente por meio da experiência (empirismo). Piaget consegue chegar mais perto de uma compreensão do desenvolvimento da linguagem que atende melhor à realidade observada. Segundo ele, tanto os elementos biológicos como as interacções com o mundo social são importantes para o desenvolvimento da linguagem (interaccionista).
Dentro da óptica interaccionista, da qual Piaget é adepto, o aparecimento da linguagem seria decorrente de algumas das aquisições do período sensório–motor, já que ela adquiriu a capacidade de simbolizar no final daquele estádio de desenvolvimento da inteligência. Soma–se a isso a capacidade imitativa da criança. As primeiras palavras estão intimamente relacionadas com os desejos e acções da criança.
O egocentrismo da criança no estágio pré–operatório também se torna presente na linguagem que ela manifesta. Deste modo, ela usa frequentemente a fala egocêntrica, ou privada, na qual fala sem nenhuma intenção muita clara de realmente comunicar com o outro, centrada na sua própria actividade. É como se a criança falasse em voz alta para si mesma. Contudo ela também usa a linguagem socializada, que tem como objectivo fazer-se entender pelo interlocutor.
Já de acordo com Vygostisky “não basta apenas que a criança esteja ‘exposta’ à interacção social, ela deve estar ‘pronta’, no que se refere à maturação, para desenvolver o(s) estágio(s) para compreender o que a sociedade tem para lhe transmitir".
Estágios do Desenvolvimento (segundo Jean Piaget):
• Sensório–motor, dos 0 aos 18/24 meses, precede a linguagem;
• Pré–operatório, dos 1;6/2 anos aos 7/8 anos, fase das representações, dos símbolos;
• Operatório–concreto, dos 7/8 aos 11/12 anos, estágio da construção da lógica;
• Operatório–formal, dos 11/12 anos em diante, fase em que a criança raciocina, deduz, etc. “
Para fazer uma síntese do que torna fácil ou difícil de aprender para a criança no domínio da linguagem apresentamos o quadro abaixo:
A LINGUAGEM É FÁCIL QUANDO X A LINGUAGEM É DIFÍCIL QUANDO:
É real e natural X É artificial
É integral X É dividida em pedaços
Faz sentido X Não faz sentido
É interessante X É “chata" e desinteressante
Faz parte de um acontecimento social motivador X Está fora de um contexto
Tem utilidade social relevante X Não possui valor social
Tem propósito para a criança X Não tem finalidade para a criança
A criança a utiliza por opção X É imposta por outra pessoa
Após estas considerações esperamos ter ajudado a compreender um pouco mais da complexidade que é o mundo da fala infantil.
CONCLUSÃO:
Seria importante apenas ressaltar o muito que os estudos de Psico-linguística contribuíram para os diferentes avanços no âmbito dos estudos da fala infantil e para o conhecimento dos enormes progressos que as crianças conseguem mesmo antes do primeiro ano de vida na construção da fala. Bem como para a compreensão de todo o processo vivido por elas no intervalo de tempo dos zero aos 6 anos.
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