quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Métodos da Psicologia







Métodos da Psicologia

Nas investigações em psicologia são usados diversos métodos e técnicas. Os métodos correspondem ao conjunto de procedimentos utilizados na investigação, e as técnicas aos processos práticos usados em cada método.
Algumas correntes da psicologia, como o associacionismo, o behaviorismo ou a psicanálise estão ligadas a métodos específicos. Este princípio não pode hoje ser generalizado, dada a diversidade de metodologias a que os psicólogos podem recorrer nos seus trabalhos. A escolha de um método depende dos objetivos que se tenham em vista atingir, os recursos e o tempo disponível

Introspectivo

Método aplicado  por Wundt como forma de estudar os estados de consciência do indivíduo submetidos a certas experiências.
- A observação é feita pelo próprio indivíduo que revive a experiência interior retrospetivamente.
- Não existe separação entre o objeto (o que está a ser observado) e o observador (aquele que observa). Esta situação coloca o problema da subjetividade desta metodologia de pesquisa.
Algumas das limitações do método introspectivo: não pode ser aplicado a crianças, doentes mentais, a pessoas com dificuldades de verbalização, assim como aos animais.

Experimental

Os psicólogos que aplicaram e desenvolveram este método, como Watson, centram-se quase exclusivamente no estudo do comportamento humano, em ambientes laboratoriais, controláveis e modificáveis, seguindo os mesmos princípios metodológicos usados pelos físicos e químicos no estudo da natureza.
Pretendem estabelecer medidas cientificas sobre o comportamento dos seres vivos, homens ou animais, determinando as suas leis gerais sempre que ocorrem condições idênticas. Estas leis permitiriam não apenas explicar o comportamento, mas também prevê-lo e controlá-lo.
- A observação centra-se em dados exteriores ao observador, separando desta forma o objeto do observador
- Nas observações são selecionados preferencialmente aspetos susceptíveis de serem traduzidos em termos quantitativos, permitindo desta forma um elevado grau de objetividade nas descrições

Modelo básico de investigação experimental

Estudo das variáveis
Os procedimentos seguidos no estudo das relações de causa-efeito na psicologia experimental são concebidas como uma relação entre variáveis, numa dada situação controlada.
Entende-se por variável uma qualquer propriedade ou característica de um dado sujeito que pode ser quantificado ou precisado com rigor. Exemplos de variáveis: idade, altura, peso, sexo, etc.
Denomina-se por variável independente aquela cuja modificação se supõe poder produzir uma modificação num dado comportamento observável (variável dependente ou variável de resposta). Exemplos: Determinar a relação entre o número de erros em italiano (variável dependente) e o número de aulas (variável independente); Determinar o efeito do álcool sobre o reflexos motores.
objetivo do investigador é comprovar se os efeitos provocados pela variável independente sobre a variável dependente são aqueles tinha suposto como hipótese.

Estudo de Grupos
Na maioria do casos os psicólogos experimentais não têm a possibilidade de estudar a totalidade dos indivíduos. Neste caso optam por estudar um grupo representativo (amostra).Os procedimentos anteriores são agora aplicados a grupos de indivíduos.
A primeira tarefa consiste em escolher um conjunto de indivíduos que seja representativa da população a que se pretende generalizar as conclusões (universo). Esta escolha deve ser feita forma aleatória, de modo a que todos os indivíduos tenham as mesmas hipóteses de serem escolhidos.
A segunda tarefa consiste em estabelecer dois grupos:

O Grupo Experimental - o conjunto de indivíduos onde será alterada (manipulada) uma dada variável.

O Grupo de Controlo - o conjunto de indivíduos em que não foram alteradas nenhuma das condições habituais. Este grupo permite ao observador comparar os efeitos da experiência realizada como grupo em observação (ou experimental).

A comparação entre os dois grupos permite confirmar ou não a causa de determinados efeitos sempre que se altera uma das variáveis (validação da hipótese). Esta validação dos resultados está dependente do controlo que tenha sido realizado de todas as variáveis.

Etapas do Método Experimental
O método experimental pode ser dividido nas seguintes etapas:
a) Observação, identificação e análise do problema ou situação
b) Formulação de uma hipótese explicativa
c) Experimentação -manipulação e controlo das variáveis no grupo em observação (experimental)
d) Conclusão - confirmação da hipótese e sua generalização.

Limitações do método experimental: estão ligadas à complexidade do objeto de estudo - o comportamento humano. Este método implica frequentemente uma visão reducionista do mesmo. Por outro lado, as condições laboratoriais em que as experiências são feitas tendem a produzir respostas falseadas, pois a situação será sempre "artificial" e os participantes das experiências, sabem em geral que são "experiências" (mais ou menos como os participantes em simulações de incêndios e sismos, sabem que são "simulações"). Neste sentido, as generalizações das conclusões obtidas com este método são alvo de grandes críticas.

Método Clínico

O objetivo da psicologia clínica é estudar o indivíduo em profundidade, na sua singularidade e no caso concreto em que o mesmo se apresenta, ultrapassando as aproximações parciais da psicologia experimental.
Este método procura compreender a pessoa nas suas relações com o mundo: com os outros, consigo mesma, na imagem que constrói da sua vida, e com os valores em que assenta a sua conduta.
- Estudo do indivíduo em várias dimensões ao longo do seu desenvolvimento
- Recurso a uma multiplicidade técnicas: entrevistas (recolha de dados, análise de atitudes, etc.); testes psicológicos (testes de personalidade, aptidão, etc.); anamnese (reconstituição da vida do paciente pelo próprio, etc.); observação clínica.

Método Psicanalítico

A psicanálise, enquanto terapia, é um método de exploração do inconsciente.
A hipnose foi a primeira técnica que J. Breuer e depois Freud utilizou. Este último desenvolveu e aplicou outras técnicas para atingir os mesmos objetivos:
-Associações Livres. Consiste em pedir aos pacientes para dizerem os que lhes ocorre, sem qualquer constrangimento. O objetivo é que o paciente se autoanálise, descobrindo as questões que lhe provocam alguma resistência. O psicanalista toma nota de todas as perturbações em função do encadeamento das associações realizadas pelo paciente, tentando deste modo identificar os fenómenos inconscientes que estão na base das neuroses.
- Interpretação do Sonhos. Os sonhos são uma das manifestações mais ricas do inconsciente, ainda que estes se apresentem numa forma simbólica. A sua interpretação permite a descoberta das causas profundas das situações traumáticas.
-Atos Falhados. Nas mais diversas situações, todos nós somos afetados por certas pequenas perturbações, nas quais não nos recordamos, por exemplo, de nomes de pessoas nossas conhecidas, trocamos palavras, ouvimos coisas que não foram ditas, etc. A análise destes atos falhados é outra das técnicas utilizadas na psicanálise.
- Transferências. Durante o tratamento o paciente estabelece com o psicanalista relações que lhe permitem reviver situações traumáticas. Nestas, os sentimentos de amor ou de ódio que em tempos foram experimentados, são transferidos para o psicanalista. A interpretação destas transferências torna-se assim num dos elementos fundamentais que pode levar à descoberta das situações traumatizantes.
Estas e outras técnicas utilizadas na Psicanálise devem ser vistas como complementares, podendo num dado momento umas serem mais usadas que outras.
A psicanálise apesar do lugar incontornável na psicologia, continua a ser alvo de inúmeras criticas, nomeadamente sobre a precariedade do seu método enquanto método científico, pois este não é propriamente "objectivo", mas fortemente interpretativo (o que permite a especulação e a subjectividade).

Outros

Observação Naturalista e Observação Participante

Com este método, os investigadores procuraram superar as limitações do método experimental, através da observação sistemática fora do ambiente laboratorial.
Estudo do indivíduo faz-se no seu meio natural. O observador está no campo e observa o processo tal como decorre na vida do indivíduo. Este tipo de observação denomina-se de naturalista.
Quando o observador participa na vida dos indivíduos em observação, o método denomina-se Observação Participante.
Embora as etapas destes métodos sejam similares às do método experimental, a verdade é que os dados recolhidos são muito diferentes: em vez de dados quantitativos ou mensuráveis, o que obtemos são dados de natureza descritiva (qualitativos).
Uma das principais limitações destes métodos consiste na dificuldade em generalizar as suas conclusões. Este facto deve-se à própria natureza da investigação que é feita que incide em profundidade sobre casos singulares.

Testes

Prova destinada a determinar a avaliar o nível atingido por um indivíduo face a uma situação padronizada. Os testes fazem partem do conjunto de processos de medida utilizados na psicologia, globalmente designados de psicometria. Características que devem de obedecer os testes: padronização, fidelidade, validade e sensibilidade.
Tipos de testes: Testes de Inteligência; Testes de Aptidão; Testes de Personalidade; Testes de Memória; etc.
Testes de Inteligência: Os primeiros testes de inteligência foram criados Alfred Binet, no início do século XX, e destinavam-se a identificar as crianças com defeitos intelectuais e que necessitassem de acompanhamento escolar especial. Binet começou por definir a inteligência ("capacidade de emitir juízos"). Depois, para cada uma destas capacidades inventou um meio testar o nível atingido por cada indivíduo. Procurou então determinar um nível médio de capacidade mental atingido pelos indivíduos em função da sua idade. A partir daqui estabeleceu o padrão mental para cada idade. Estes valores permitem escalonar os indivíduos em função dos resultados que obtêm nos testes para a sua idade.
Em síntese: no decurso do seu desenvolvimento uma pessoa atinge um grau de aptidão que corresponde a uma idade mental (estatisticamente determinada), que não corresponde necessariamente à idade cronológica dessa pessoa. À medida deste nível de desenvolvimento, obtido pelo coeficiente da relação entre a idade mental e a idade real, o chamado Q.I.
Testes de Personalidade: O mais famoso teste de personalidade foi criado por Rorschach. Consiste em 10 pranchas, cada uma das quais com uma mancha de tinta simétrica. Algumas pranchas são a preto e branco, outras a cor. o indivíduo a convidado a dizer o que "vê" na mancha, assim como em todos os seus detalhes. Trata-se de um teste projetivo da personalidade. Na interpretação pessoal destes estímulos ambíguos o indivíduo revela o seu modo particular de estruturar o mundo, a sua personalidade.
Os testes de personalidade procuram revelam as estruturas psíquicas de uma pessoa, através da interpretação que essa pessoa dá, por exemplo, a uma imagem ambígua ou através da criação de desenhos. Deste modo o sujeito projeta a sua própria organização interna na interpretação que faz ou no desenho que lhe é solicitado.
Testes de Aptidão: Dizem respeito a capacidades consideradas essenciais para o desempenho de certas actividades, tais como a acuidade visual, a perceção das cores e das formas, memória espontânea de palavras e algarismos, velocidade de aprendizagem de uma instrução, etc. (muito utilizados como Testes Psicotécnicos).

Inquéritos e Entrevistas

.Inquéritos por questionário - Este método é aplicado ao estudo de grandes grupos de indivíduos (método extensivo). É constituída por um conjunto de perguntas simples e objetivas, na maioria das vezes com apenas duas alternativas: sim ou não. Avalia os aspetos relevantes de um número restrito de questões.
Entrevistas - Esta técnica permite obter maior informação do que os questionários, mas também é mais demorada. A escolha dos diferentes tipos de entrevistas é feita em função dos objetivos, mas também do número de pessoas a estudar (usada como parte integrante das "baterias" de Testes Psicotécnicos).
Entrevista diretiva - O entrevistador conduz a entrevista evitando os desvios do assunto em análise.
Entrevista não diretiva - O entrevistador coloca um conjunto de questões de forma informal, procurando que os entrevistados os desenvolvam de forma pessoal.
Entrevista semidiretiva. Situação mista entre entrevista diretiva e não diretiva.

(A. Lopes e A. Nicolau - adaptado)



terça-feira, 18 de setembro de 2012

O que é a Intervenção Precoce?




A Intervenção Precoce destina-se a crianças até à idade escolar que estejam em risco de atraso de desenvolvimento, manifestem deficiência, ou necessidades educativas especiais. Consiste na prestação de serviços educativos, terapêuticos e sociais a estas crianças e às suas famílias com o objetivo de minimizar efeitos nefastos para o seu desenvolvimento.

A Intervenção Precoce pode ter uma natureza preventiva secundária ou primária: procurando contrariar a manifestação de problemas de desenvolvimento ou prevenindo a sua ocorrência.

Os programas de Intervenção Precoce devem, sempre que possível, decorrer no meio ambiente onde vive a criança.

Habitualmente a intervenção inicia-se com a sinalização; geralmente feita pelo hospital, creche, jardim infantil, ou pela própria família. Seguidamente é realizada a avaliação/diagnóstico e implementado um programa de intervenção.

A Intervenção Precoce pode iniciar-se entre o nascimento e a idade escolar, no entanto há muitas vantagens em começar o mais cedo possível.

Porquê intervir precocemente?

Existem três razões fundamentais:

- Quanto mais cedo se iniciar a intervenção maior é potencial de desenvolvimento de cada criança;

- Para proporcionar apoio e assistência à família nos momentos mais críticos;

- Para maximizar os benefícios sociais da criança e da família

A investigação nesta área já demonstrou que grande parte das aprendizagens e do desenvolvimento ocorre mais rapidamente na idade pré-escolar. O momento em que é proporcionada a intervenção é, por isso, particularmente importante já que a criança corre o risco de perder oportunidades de desenvolvimento durante os estádios mais propícios. Se esses momentos não forem aproveitados, mais tarde a criança pode vir a manifestar maiores dificuldades de aprendizagem.
Estudos recentes acentuam o facto de que o potencial de cada criança só será completamente manifestado se houver a identificação precoce e uma intervenção programada e individualizada.

Os serviços de Intervenção Precoce podem ter um impacto significativo nos pais e irmãos das crianças em risco. As famílias destas crianças geralmente vivem sentimentos de deceção, isolamento social, stress, frustração e desespero.
 O stress acrescido que a presença de uma criança com deficiência implica pode afetar o bem-estar da família e interferir positivamente no desenvolvimento da criança. As famílias de crianças com deficiência são mais susceptíveis de viver situações como o divórcio e o suicídio e, de igual forma, as crianças com deficiência são mais susceptíveis de abuso e negligência do que as crianças sem deficiência.

A Intervenção Precoce deve resultar no desenvolvimento de melhores atitudes parentais relativamente aos próprios pais e aos seus filhos com deficiência. Deve proporcionar mais informação e melhores competências para lidar com a sua criança, e incentivar a libertação de algum tempo para o descanso e lazer (tarefa muito complexa, uma vez que essas crianças costumam exigir muita e constante dedicação e assim absorver imenso do tempo e do esforço dos cuidadores).

Um outro motivo que justifica a importância da Intervenção Precoce diz respeito aos ganhos sociais alcançados. O incremento do desenvolvimento da criança envolve a diminuição das situações de dependência em relação a instituições de apoio social, o aumento da capacidade da família para lidar com a presença de um filho com deficiência e o possível aumento das suas capacidades deste para vir a ter um emprego.

A Intervenção Precoce é eficaz?

Cerca de cinquenta anos de investigação nesta área permitiram obter informação quantitativa (baseada nos resultados de investigações longitudinais) e qualitativa (depoimentos de pais e professores) que demonstra que a Intervenção Precoce proporciona ganhos ao nível do desenvolvimento e educação das crianças que dela beneficiam, melhora o nível de funcionamento da família e produz benefícios económicos e sociais a longo prazo.
A Intervenção Precoce demonstra resultados positivos nas crianças que dela beneficiam porque quando estas crianças crescem necessitam menos de educação especial.
A investigação longitudinal efetuada com um grupo de crianças provenientes de meios social e economicamente desfavorecidos demonstrou que se mantiveram ganhos significativos. Estas crianças obtiveram melhores resultados escolares e muitas acabaram o ensino básico obrigatório e seguiram programas de formação profissional. Estes jovens mostraram, em média, melhores resultados do que outros do mesmo estrato social que não beneficiaram de qualquer programa de intervenção precoce. Comparativamente a outros jovens da mesma classe social, obtiveram melhores resultados em testes de leitura, aritmética e linguagem e manifestaram menos manifestações de comportamentos antissociais e delinquentes.

Quais os aspetos essenciais para a eficácia da Intervenção Precoce?

Têm sido feitas várias tentativas para identificar quais os aspetos mais importantes para garantir a eficácia da Intervenção Precoce. Verificou-se que existem alguns fatores que são comuns aos programas de Intervenção Precoce que obtêm melhores resultados. São eles:

- A idade da criança à data do inicio da intervenção;

- O envolvimento dos pais;

- A intensidade e/ou estruturação do modelo do programa de Intervenção Precoce adotado.

Diversos estudos demonstram que quando mais cedo se iniciar a intervenção maior é a sua eficácia. Quando a intervenção é iniciada logo após o nascimento ou pouco tempo após ser feito o diagnóstico de deficiência ou de alto risco, os ganhos ao nível do desenvolvimento são maiores e a probabilidade de se manifestarem outros problemas é menor.

O envolvimento dos pais na intervenção é também muito importante. As famílias de crianças com deficiência ou em risco necessitam de um maior apoio social e instrumental e de desenvolver as competências necessárias para lidar com os filhos com necessidades especiais.

Os principais resultados da Intervenção com a família dizem respeito ao aumento da capacidade dos pais para lidarem com o problema da criança, que leva necessariamente à redução do stress familiar. Estes fatores aparentam desempenhar um papel importante no sucesso dos programas de intervenção junto da criança.

A estruturação dos programas de Intervenção Precoce está também relacionada com os seus resultados, independentemente do modelo curricular utilizado. Os programas de maior sucesso são geralmente os mais estruturados. Isto significa que os casos de sucesso registam-se em programas que:
- Definem operacionalmente e monitorizam frequentemente os objetivos;
- Identificam com precisão os comportamentos a desenvolver e as actividades que serão desenvolvidas em cada sessão;
- Utilizam procedimentos de análise de tarefas;
- Avaliam regularmente o desenvolvimento da criança e utilizam os registos de progressão no planeamento da intervenção.
A intervenção individualizada e dirigida às necessidades específicas da criança também surge associada a bons resultados, o que não significa necessariamente um trabalho de um para um (na relação técnico/"paciente"). As actividades de grupo podem ser estruturadas de forma a ir ao encontro das necessidades educativas de cada criança.


                                                                                                           (Texto Adaptado de CERCIFAF)
(Vide Decreto-Lei n.º 281/2009 de 6 de Outubro)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ética ou Éticas ?


Uma das principais distinções que se podem estabelecer no campo da Ética é entre as éticas materiais e uma ética formal. Assim, enquanto as éticas materiais tendem a prescrever ou interditar acções em concreto, uma ética formal procurará enunciar os modos da acção que sejam universalizáveis.
Um dos exemplos mais importantes e típicos das éticas materiais é o Decálogo ou “Dez Mandamentos”, aí se indicam actos a praticar: “Honrarás pai e mãe” e, sobretudo, a evitar: ”Não matarás” ou “Não cobiçarás a mulher do próximo”.
Se estendêssemos esta lógica a todas as acções a fazer e a evitar teríamos uma lista infindável e que, ainda por cima, variaria em termos culturais e religiosos. Por exemplo, enquanto um muçulmano ou um judeu não deverão comer carne de porco, já um cristão pode fazê-lo; se a questão for beber álcool, só o muçulmano estará interdito.
Se a lógica for a da ética formal será mais fácil, sintética e positiva a sua formulação. Por exemplo, o mandamento: “Age de tal maneira que trates tanto a tua pessoa como a do próximo, sempre e simultaneamente como um fim e nunca simplesmente como um meio” – enquadra-se nesta caracterização.
As éticas podem ainda diferenciar-se quanto à ponderação das relações entre meios e fins. Neste caso podemos falar de éticas finalistas, em que a importância dos fins sobreleva claramente a dos meios e de éticas deontológicas, em que meios e fins se compatibilizam.
O Utilitarismo ou o Pragmatismo, por exemplo, são éticas finalistas, já a ética de Kant (1724 – 1804) é uma ética deontológica, pois exprime a primazia do Dever sobre as próprias conveniências mesmo para além das circunstâncias.
O principal eixo da diferença é a consideração da possibilidade ou não possibilidade da constituição de uma ética universal, se a resposta for negativa estaremos condenados ao puro relativismo e a sermos governados por meras contingências.                                                                   

domingo, 16 de setembro de 2012

O que é a Psicologia ?




O termo Psicologia remete-nos para o grego antigo, como, aliás, uma grande parte dos termos científicos e significa literalmente “ciência da alma” (psique = alma + logos = ciência). Designava classicamente uma área da Filosofia de carácter metafísico (outro termo de origem grega), isto é, que estaria para além da realidade física. Ora, como o que está para além da realidade física, independentemente de poder ou não existir, é inobservável (e a  “alma” está nesta categoria), optou-se por reduzir a Psicologia ao estudo do “comportamento”, isto é da conduta observável de seres humanos e animais.
A Psicologia é assim, desde o início do século XX, a ciência que estuda o comportamento ou conduta. O comportamento é assim o objecto (= campo de investigação) da Psicologia.
Uma ciência, qualquer que seja, para além de ter delimitado o seu campo de investigação, necessita de definir os procedimentos dessa investigação, quer dizer, precisa de método(s). O método é o conjunto de regras, orientações e procedimentos que permite conduzir uma investigação de forma económica, ou seja, maximizando os resultados e minimizando os esforços; tal como para ir de Lisboa ao Porto o mais rapidamente possível é desnecessário passar por Viseu, a não ser que tenhamos que fazer lá alguma coisa, também os métodos científicos enquadram de forma “útil” os procedimentos nas ciências.
        No entanto, as ciências não são todas do mesmo tipo e estão “arrumadas” em dois grandes grupos – as Ciências Matemáticas e da Natureza (Matemática, Física, Química, Biologia) e as Ciências Sociais e Humanas (Psicologia, Sociologia, Economia – que às vezes mais parece “desumana”). Qual será a diferença fundamental? A estabilidade metodológica e o acordo no essencial entre os cientistas. Verificamos que neste domínio a Química, por exemplo, é muito mais consensual do que a Psicologia (e da Economia então, nem é bom falar).
 A Psicologia comporta, assim, várias correntes, métodos e áreas específicas que abordaremos ao longo do Curso.